Acalento


Duda  fora acordada em meio ao sono de menina, havia um grande estrondo ao seu redor, isso a deixou assustada! Percebeu que as janelas de sua casa sacudiam devido a força brutal da ventania que varia o grande lago, a chuva ainda não chegara, mas não iria tardar a vir.
— Mamãe!?
— Oi filhinha, mamãe está aqui. Volte a dormir é apenas o vento que logo passará.
— Mamãe, papai?
— Deve estar a caminho Duda, agora seja obediente e volte a dormir, logo tudo estará bem!
— Mamãe eu quero orar para que papai do céu acalme esse vento forte.
— Tudo bem filhinha, oremos depois iremos dormir.
— Ta bom mamãe.
 Dona Lídia que era dona de uma fé intransponível, orou durante um longo período, até que cansada adormeceu entre os lençóis da cama de Duda com a filha nos braços.

Logo nas primeiras horas do dia, no primeiro despertar da manhã, Duda se levantou e caminhou até a cozinha e viu seu tio Amadeus que era o verdureiro da região preparando seu café da manhã com muita dedicação, seu tio era conhecedor de suas preferencias e lhe trouxe batatas doce.
— Bom dia tio, tão cedo e o senhor aqui em casa?
— Bom dia Dudinha, como dormiu com toda aquela tempestade?
— Fiquei com medo tio, mas mamãe orou comigo. Onde está a mamãe e o papai?
— A mamãe ja vem, está resolvendo algo muito importante e logo virá! O papai dormiu no trabalho por causa da tempestade e... Bom, quando você encontrar com a mamãe ela te explicará. Enquanto isso, eu cuidarei da senhorita.  Iremos a uma festa preparada exclusivamente para você!
— Oba tio... Adoro festas!
Amadeus era um homem justo, possuidor de uma honestidade rara nos dias atuais, sempre fora apaixonado por sua sobrinha Maria Eduarda. Não teve filhos, passara a vida a trabalhar, ajudando sua mãe doente que morera uns anos antes de um tumor no cérebro.
Após servir o café da manhã os dois se encaminharam para o quarto de Duda, para que ela se produzisse para o evento. Duda muito animada escolhera seu melhor vestido. Caminharam juntos  por cerca de um quilometro. Animados e sorridentes... Seu tio Amadeus escolhera o seu melhor repertório de piadas. Tudo estava lindo, tudo ia bem, mas Duda estava um pouco preocupada com sua mãe. Pelo que ela pudesse lembrar nunca acontecera de acordar e não encontrar a mãe em casa. 
Ao chegar na festa, todos estavam animados, era uma animação contagiante, todos festejaram ainda mais quando avistaram Duda e seu tio. Eles os cercaram numa roda com  muitas cores, cantigas e logo depois aplaudiram. Era como se naquela festa eles fossem os mais esperados. 
Muitos daqueles rostos Duda reconhecia, porém em sua maioria Duda não se recordava muito bem, ela ficou bem animada, comeu de se fartar e brincou. Ah, e como brincou naquele dia! Não havia outras crianças... E mesmo assim Duda se divertiu e fez muitas amizades, ela estranhava mas reconhecia que aquelas pessoas lhe causavam uma sensação de afeto, havia uma sentimento bom, com sabor de algodão doce, assim ela percebia! 
Mas havia algo... Quanto mais o tempo  passava e logo ao entardecer, Duda começou a ficar possuida por uma tristeza. Ela queria sua mãe e em certo momento uma lágrima escorreu por seu olho direito e acomodou-se no canto de sua boca. Nesse momento Duda aproximou-se de seu tio.
— Tio Amadeus, quero ir embora, quero minha mãe. Cadê ela?
— Duda toda essa festa, todas essas pessoas estão aqui hoje com o intuito de te ajudar, pois aconteceu algo a sua mãe e você, que você precisava estar como coração preparado e alegre para poder entender. Agora ja chega a hora de você encontar-se com  sua mãe nós iremos buscá-la e para que isso ocorra, você precisa ver algo que a fará compreender, exatamente o que aconteceu, é importante que você veja, pois se eu lhe contar você não acreditará.
Amadeus segurou firme a mão de sua sobrinha e juntos se encaminharam em direção a casa de Duda. Ao chegar em casa Duda apavorou-se com o que estava vendo. Não era sua casa, eram destrossos, e Duda reconhecia algumas coisas naquele ambiente, entre essas coisas havia sua boneca favorita que estava suja de terra e lama, havia ainda umas roupas no varal que estavam a se soltar, o tempo ficara cinza. Duda com os olhos marejados olhara para o tio e mais uma vez indagou:
— Tio, ainda não vejo a mamãe, onde ela está?
— Duda tente lembrar. 
Nesse momento Duda correu em direção a umas telhas e tijolos jogadas num canto do quintal, e gritou: 
— Tio ajuda! 
Tudo clareava em sua mente nesse momento e ela caminhava em direção ao encontro de sua mãe que nesse momento precisava se libertar!
Juntos ao levantarem aqueles destroços encontraram Dona Lídia, abraçada firmente ao corpo que jazia em seus braços! Envoltas como que em um afago, ali estava os corpos de  mãe e filha!


rosangela ataíde

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