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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Corte e Costura

Era tempo de coser farrapos à mão, tecidos variados se estendiam sobre a mesa descendo sobre nossas ancas quase nuas. Botões, torçais, retalhos espalhavam-se pelo chão. O menino catava todos para brincar sempre levando algo à boca provocando gritaria das mulheres enlouquecidas que se degastavam pelo tempo que passava aguerrido e pela falta dele também. A máquina sempre desregulava mastigando o crepe caro, enfestado das senhoras elegantes bem vestidas. A gente mal comia - não dava tempo! A mãe agia com frieza, destemida, sem muito riso. Ela só tinha afeto pelo menino. Eu e Elly, dançávamos clássicos da dance music dos anos 90. Parecia que éramos movidas a pilha ou que tínhamos molas em nossas cinturas. Ensaiávamos pela casa, deslizando enquanto limpávamos o piso e cuidávamos do menino. Deste tempo, eu me recordo das mortes do menino e da mãe, do companheiro e da indiferença e desmazelo ao qual não sei se mereço, mas sou submetida. Mas aceito de cabeça baixa, grata p

Urgências

tenho urgências subcutâneas... mais que táteis! urgências de emoções. mas, quero pesar tudo numa balança onde os pratos pendem de uma lado ao outro em justa medida. e eu fico perdida,  entende? minha teimosia me engana às vezes e eu estou ficando cega.  talvez não queira ver o prato esfriando sobre a mesa. talvez não sinta o cheiro do vazio. acontece que eu não sei reconhecer a pureza. a preciosidade me escapa aos ouvidos já que também estou ficando surda. não temo a tristeza... velha conhecida. muito menos a solidão, companheira de longa data. eu temo a brutalidade dos dias vermelhos, o sol na moleira dos pequenos inocentes, a indiferença mordaz que me açoita. eu tenho urgências quase cardíacas e necessito urgente de um sol que me aqueça a alma, uma fé inabalável para permear a sobriedade de que tudo está bem... uma mão que me levante como acontece logo após o parto ... para que eu respire, chore e me aconchegue num colo quase maternal.  cheia de Vida! rosangela a.

Deus é Liberta-Dor

Deus em Verdade liberta a alma do cativo Provocando algo parecido com prazer. Na verdade este algo chama-se alívio. Alívio da intensidade de existir. Eu existo e preciso aliviar toda esta existência. É muita coisa borbulhando aqui dentro. Não apenas pensamentos... Movimentos; Células que morrem; Células que se reproduzem; Átomos; Quantos universos existem dentro de mim? Quantas existências existem no meu subconsciente? É preciso alívio... Fluir com a vida é uma forma de aliviar. Por isso falamos, Amamos, Escrevemos, Pintamos, Vibramos, Nos reproduzimos, pois é necessário continuar toda essa existência nossa existência doando ao outro, sangue, sêmen, gozo, óvulo... Tempo. Existir é grande demais para uma só criação e assim seguimos nós perpetuando no outro e em nós mesmos. Mesmo que aos poucos, dia a dia estejamos virando poeira. ...Por isso "Deus" criou os Universos, Tudo que existe. Tudo que vibra. Por isso Deus expandiu.

Pombais

Abrigados nos beirais das cidades eis que vejo os pombos. Vez ou outra  fazem festa nas rações dos domesticados cães e gatos. Com a proximidade  alçam um vôo longo, mas rasante... Misturam-se na multidão que os espremem destemidos. Creio que partem  por seus sonhos de liberdade à um mundo distante, mensageiros de paz e esquecimento. Mas logo percebo o engano. Eles voltam a seus lares por fidelidade e  orientado pelo campo magnético de Gaia. E já nem sei  a quem de veras  pertencem os beirais, as casas, os parabrisas dos carros e até a camisa branca do Boy da contabilidade.. Só sei que estão sempre lá  nos pombais. Os mais antigos moradores  da grande cidade. Rosangela Ataíde

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