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Mostrando postagens de 2019

Corte e Costura

Era tempo de coser farrapos à mão, tecidos variados se estendiam sobre a mesa descendo sobre nossas ancas quase nuas. Botões, torçais, retalhos espalhavam-se pelo chão. O menino catava todos para brincar sempre levando algo à boca provocando gritaria das mulheres enlouquecidas que se degastavam pelo tempo que passava aguerrido e pela falta dele também. A máquina sempre desregulava mastigando o crepe caro, enfestado das senhoras elegantes bem vestidas. A gente mal comia - não dava tempo! A mãe agia com frieza, destemida, sem muito riso. Ela só tinha afeto pelo menino. Eu e Elly, dançávamos clássicos da dance music dos anos 90. Parecia que éramos movidas a pilha ou que tínhamos molas em nossas cinturas. Ensaiávamos pela casa, deslizando enquanto limpávamos o piso e cuidávamos do menino. Deste tempo, eu me recordo das mortes do menino e da mãe, do companheiro e da indiferença e desmazelo ao qual não sei se mereço, mas sou submetida. Mas aceito de cabeça baixa, grata p

Urgências

tenho urgências subcutâneas... mais que táteis! urgências de emoções. mas, quero pesar tudo numa balança onde os pratos pendem de uma lado ao outro em justa medida. e eu fico perdida,  entende? minha teimosia me engana às vezes e eu estou ficando cega.  talvez não queira ver o prato esfriando sobre a mesa. talvez não sinta o cheiro do vazio. acontece que eu não sei reconhecer a pureza. a preciosidade me escapa aos ouvidos já que também estou ficando surda. não temo a tristeza... velha conhecida. muito menos a solidão, companheira de longa data. eu temo a brutalidade dos dias vermelhos, o sol na moleira dos pequenos inocentes, a indiferença mordaz que me açoita. eu tenho urgências quase cardíacas e necessito urgente de um sol que me aqueça a alma, uma fé inabalável para permear a sobriedade de que tudo está bem... uma mão que me levante como acontece logo após o parto ... para que eu respire, chore e me aconchegue num colo quase maternal.  cheia de Vida! rosangela a.

Deus é Liberta-Dor

Deus em Verdade liberta a alma do cativo Provocando algo parecido com prazer. Na verdade este algo chama-se alívio. Alívio da intensidade de existir. Eu existo e preciso aliviar toda esta existência. É muita coisa borbulhando aqui dentro. Não apenas pensamentos... Movimentos; Células que morrem; Células que se reproduzem; Átomos; Quantos universos existem dentro de mim? Quantas existências existem no meu subconsciente? É preciso alívio... Fluir com a vida é uma forma de aliviar. Por isso falamos, Amamos, Escrevemos, Pintamos, Vibramos, Nos reproduzimos, pois é necessário continuar toda essa existência nossa existência doando ao outro, sangue, sêmen, gozo, óvulo... Tempo. Existir é grande demais para uma só criação e assim seguimos nós perpetuando no outro e em nós mesmos. Mesmo que aos poucos, dia a dia estejamos virando poeira. ...Por isso "Deus" criou os Universos, Tudo que existe. Tudo que vibra. Por isso Deus expandiu.

Pombais

Abrigados nos beirais das cidades eis que vejo os pombos. Vez ou outra  fazem festa nas rações dos domesticados cães e gatos. Com a proximidade  alçam um vôo longo, mas rasante... Misturam-se na multidão que os espremem destemidos. Creio que partem  por seus sonhos de liberdade à um mundo distante, mensageiros de paz e esquecimento. Mas logo percebo o engano. Eles voltam a seus lares por fidelidade e  orientado pelo campo magnético de Gaia. E já nem sei  a quem de veras  pertencem os beirais, as casas, os parabrisas dos carros e até a camisa branca do Boy da contabilidade.. Só sei que estão sempre lá  nos pombais. Os mais antigos moradores  da grande cidade. Rosangela Ataíde

Pose

Pose... Onde há um riso. - num pisco - Pose... Por um bom siso. Pose... Faces iluminadas. Pose da que é obstinada, ciente da cobiça. Pose por saber a tal que é. Vários  clicks e mais uma pose! Pose Até que acabem os  flashes. As luzes se apaguem. As arestas se aparem. E resta... O espelho,  sem ter onde posar, os vincos na face  dos risos. Depois das ancas  dilatadas. Os ossos quebradiços e a alma... Ah, a alma  ela não faz  pose, nem solta risos bobos, Mas torna-se leve. Mais leve que a bruma. E é tudo que se leva! Rosangela Ataíde

Breno Ataíde Lessa

Alado I ntento seu regresso e por não ter ver na curva de minha espera em meu peito  uma dor latente transborda teimosa é uma lágrima que segue outra num pranto incontido um 'Eu em amargura que lastima a piedade de si apenas por ver que os liames vacilam e rompem-se que almas... possuem asas que nossos olhos não vêem e nossas mãos não podem conter ... nesta espera te vejo em desamparo não alcanço seu ser alado ou seu sorriso teimoso penso apenas em te proteger racional que sou meus olhos castigam-me pois preciso ver...  você naquela curva de retorno ao que meus olhos possam ver Partes 25 de novembro de 2010 P artes de mim evadindo de ti. Partindo atroz meu coração. Em parte sinto  saudades, das partes felizes dos sorrisos de alegria. Aparte de mim este lamento. Que partam as dores e pereçam. Se vais em partida saibas: ainda, uma parte de ti teima em mim...  Partindo, partindo ! quando veio o desespero rosangela a.

sobre risos e gargalhadas

Este sorriso meio bobo, um pouco discreto, meio de lado, não tem nada da menina que fui. Era criança de pouco sorrir e muito sonhar embora ainda seja sonhadora, entendi que devo rir sempre. Rir de tudo que for graça, que for maduro, estabelecido como regra, ou que seja utópico, supérfluo. As regras são todas patéticas, aprendi isso com a morte. Não o uso para esconder nada, mas sim para me mostrar ao mundo, um riso meio anarquista, às vezes sarcástico, se duvidar até ácido. A mulher que me tornei aprendeu que nada vale ser sério. De que adiantaria ser séria? Fala a verdade, sorrir nos torna mais leves. Alguém cheio de Graça! — Felizes são os anjos quando fazem algazarra no céu para quem crê, felizes como se lambuzar na gelatina vermelha. — Num filme de terror estilo Annabelle? — Dos micos no tempo de escola. — De comprar vassoura na venda da esquina e vir fingindo estar voando nela? — Rir só de olhar a pessoa. — Rir de estranhos na rua? — Rir de nerv

Bésame

a boca que me devora úmida e quente, me eleva ao alto e me lança ao limbo me iça num vendaval de emoções e eu não sei mais do tempo, esqueci o vento, o mormaço,  o frio e até a dor. eu abro a boca como se fosse o céu me tragando, me engolindo das têmporas à alma. estou entregue. como numa sequência Fibonacci tudo que vejo ou percebo me lembra está boca inexata percorrendo de minha nuca às coxas como se fosse as coordenadas  de uma árvore de Adam Kadmon talvez um dharma, um karma... uma promessa divina, sei lá! talvez seja só impressão minha, mas esta boca me causa delírios e não sai mais de mim. rosangela a  Tema musical: Bésame Mucho Intérprete: Chantal Chamberlan Intérpretes: Amanda Santos y Alex Merino Diseño, coreografía y dirección: Sandro Borelli Producción: Junior Cecon Iniciativa: Cia carne agonizante y centro de referencia de la danza de la ciudad de São Paulo Edición de audio: Alma Cervantes.

Vida e Morte pós Yoga

a morte é desespero mudo. aquele grito de medo e dor que quer sair pela garganta e a voz não sai ou ninguém ouve. ...vida também é desespero,  porém com perpectivas bem variáveis onde oscilamos entre caos e serenidade, várias nuances de cores, sons, aromas, sabores... vida é o significado da palavra filosofia aliada as palavras res.pire e ora.çao. a morte veste preto. ja algumas vidas tem as cores dos carnavais... outras são tão imperceptíveis que a gente nem sabe a cor que tem - estas também são mudas - porém, algumas a cor é a da nudez... a morte chega a um ponto em que fede muito. por mais estranho que pareça a vida também fede, invariavelmente ela fede. vida e morte!  quando notamos que uma se funde a outra, não importa as suas cores, aromas, sabores. façamos mais que existir. o trato é este - de não nos condenarmos a morte em vida - respiremos então. rosangela a. Rone - bye bye macadam

carcinoma

esmigalhar pálidas neves nos olhos de seus dias. eu miro. e me rompe uma lágrima no peito que dói... - pedras cristalizadas - pois não os quero findos. mas sim... Estrela para minha mãe rosangela a.

lá fora chove/aqui dentro garoa

talvez seja ave, talvez seja esfera, talvez seja repouso, o pouso, a espera. talvez ainda, o oco, a semente que brota sonhando o regresso, o retorno a Mãe Terra. talvez nem seja nada já pensou se nada fosse? já pensou se fosse algo resplandecente no peito ardente, chama obturante? talvez possa ser leve pluma, pena. neve? talvez, apenas talvez seja grande e talvez, só por acaso, quem sabe? possa ser eterno! e possa fincar sua bandeira ...e ser fértil. talvez eu queira demais. talvez você nada queira. rosangela a. *desconheço o autor da ilustração, ao descobrir posto o nome.

1990

1990 estivemos atentos ao destino - vão - passado em branco num recente tempo irmão. remoemos os desacertos de nossas escolhas... desencontros alienados uns dos outros removemos nossas esperanças para renovar a fé e seguirmos adiante sem alianças, sem destempero, as pernas bambas diante do medo. escorregadios seguimos viagens, delírios, insanidades, uma fúria incontrolável, a raiva sufocando o peito. mas o olhar ainda paira nas prateleiras de nossas memórias. estamos escassos, memoráveis miseráveis, sem saber... ocorreu-me lembrar ...ainda vagamos dispersos sem horizonte, pois o que mirávamos ficou para trás. mas alimentamos a fantasia do que podia ter sido. eu olho para trás agora, mas já não sinto nada. rosangela a.

o menino blue

o menino silencioso despido de emoções esbraveja ao vento amarguras e alguma fúria momentânea. às vezes o menino ri, brinca, taca pedras no telhado, e desafia a cadela improvável que o assiste. não sabe ser leve, mas equilibra o peso sobre mim. não sabe amor de palavrear, nem ao menos de sentir. ao certo não se sabe amado nem por um gotejar de palavras jogadas contra o ventilador. não olha o céu, não vê constelações. as minhas pétalas estão sobre a cama, no teto vejo tantas outras que se debruça/ram? ao peito do menino. todas esperando o mínimo, mas o menino nunca vê. além de sua mudez ele cerrou os olhos e fechou seu coração. o menino vestiu-se de azul e se trancou. rosangela a. Gabriel Pacheco artwork

remendos

um dia eu me remonto. volto a ser essência, deixo a carne, a ossatura as ancas andarilhas. um dia verei o horizonte atenta. alcançarei o barco que navega para longe - nem sei o destino. um dia eu me aprumo neste espaço que me contorna a alma degenerada sem regras e cheia de mentiras. um dia eu canso de ser teimosia de ser intensa no sentir de querer o céu me afogando enquanto respiro... um dia eu parto. mas antes deixa eu ser amor? companheira nata, um pouco de Paz? mesmo que na maioria das vezes eu grite, rasgue o verbo, o peito, atormente ...mesmo que na maioria das vezes eu seja apenas humana. rosangela a.

Me morda

 me morde a nuca puxando meus cabelos - o gozo que eternizo - o nirvana de amar. me silencia a voz me acalma  no gemer da cama bamba  que escandaliza mais que nós parece briga nosso amor - vale tudo meus batimentos aceleram pois umedeço cada parte de nós suor, orgasmos salivas. amar é quase ebulição de corpos um fundir-se de cada molécula espasmos. "amar" é o seu suor  percorrendo nossos corpos até os meus cabelos que acabei de escovar. são as marcas que registramos um no outro como uma canção antiga que relembramos e está gravada na linha do tempo imaginário e sobre amar ainda...  é quando a sintonia chega aos pés entrelaçados descalços e descansados com as cabeças uma sobre a outra num cochilo da tarde. e confiar que estamos presentes  um pro outro. e por tanto esmero... eu amo você! rosangela ataide Ilustração: Patrice Murciano

NO TE CALLES MUJER

Ouço as  vozes cortante dos que vagueiam minha inocência na vastidão da liberdade que corrompe os homens nus e dispersos. Ontem eu falei de saudade,  de medo, de indigência... abri meu peito aos tolos improváveis que laceram minha alma sem nenhum sentimento. Hoje trago incertezas, o seio a mostra, um punhado de coragem na mão esquerda que escorre como em uma ampulheta do destino que espreito sem saber ao certo se devo. Minhas mãos vageiam os cabelos negros e emaranhados, como açoite por não saber o caminho torto que o amor percorre ao coração aflito e dorido de quem não sabe o valor de amar.  Ontem, quando eu sorri, trazia comigo a esperança, uma ternura irresistível e uma promessa de seguir. Hoje eu acordei. E canto um lamento triste, de quem vê as malas arrumadas na porta ...Ainda hoje hei de chorar. Rosangela ataide

...

quando chegou trouxe as mãos cálidas, um passo firme e uma certeza de querer. que me lançou contra ti em primeiro ato. minhas pernas tremiam assustadas, e o coração parecia ferver com uma coragem absurda de te ter, alí, logo no primeiro beijo. atamos as mãos uma a outra. o tempo é que nos devora em aflições entre calafrios noturnos de compartilhar suor, sangue, cio... manias! algumas dores, poucos pudores, e noites aquecidas entre lençóis e cobertores. em contrapartida esgueiramos adormecer em contraponto estamos exaustos do passado, atentos as ciladas que sabemos... o amar sem medida, desmedido!!! pode levar ao desenlace deste ato tão lindo que por uma urgência quase espiritual (atente) buscamos eternizar você me quer altiva e nua em pelo, mas não sempre em pele - e eu sei - me queres verdadeira, humana. eu te quero menino, firme nas palavras, nú de alma e pelo... se possível éter, se possível anjo. com os lábios quentes sussurrando verdade

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