Corte e Costura



Era tempo de coser farrapos à mão,
tecidos variados se estendiam sobre a mesa descendo sobre nossas ancas quase nuas.

Botões, torçais, retalhos espalhavam-se pelo chão.
O menino catava todos para brincar
sempre levando algo à boca provocando gritaria das mulheres enlouquecidas que se degastavam pelo tempo que passava aguerrido e pela falta dele também.

A máquina sempre desregulava mastigando o crepe caro, enfestado das senhoras elegantes bem vestidas.
A gente mal comia - não dava tempo!

A mãe agia com frieza, destemida, sem muito riso.
Ela só tinha afeto pelo menino.
Eu e Elly, dançávamos clássicos da dance music dos anos 90. Parecia que éramos movidas a pilha ou que tínhamos molas em nossas cinturas.
Ensaiávamos pela casa, deslizando enquanto limpávamos o piso e cuidávamos do menino.

Deste tempo, eu me recordo das mortes do menino e da mãe, do companheiro e da indiferença e desmazelo ao qual não sei se mereço, mas sou submetida.
Mas aceito de cabeça baixa, grata porém altiva.

Pois eu era feliz,
e eu "sabia"!

rosangela a.

Art: Michael Carson

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