os grous cortam o canal pela margem bailando como fazem as bailarinas. quando o eremita parte abastado de sua imersão os grous o abandonam, cortejando as gruas. eu nunca vi um grou, eu não sei ser grou, acredito que em minha evolução eu nunca tenha sido um grou, mas posso ter sido e esqueci. eu não vou dizer que queria ser um grou. por que o quereria? mesmo com suas penas urucum, brancas e cinzas, a sapatear delicadamente às margens do rio, os grous e suas gruas são só a vaidade do rio, não minhas. ah o rio... o mesmo rio navegante a um mar caldaloso que o afogará, se agarra as margens para se salvar do mergulho sem fim? peixes contra marés, aves esgueirando, raízes. tudo parece meio rede, meio remo. no fim, o grou vence o canal, e é um engano achar que o rio perde a corrida, ele vence e torna grandiosa sua margem quando se torna o oceano. um transcender da vida, afinal ele não retorna ao ponto de partida. o grou, a margem, o eremita e até os remos das canoas pesqueiras somente, e tão