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Mostrando postagens de maio, 2022

da vaidade

os grous cortam o canal pela margem bailando como fazem as bailarinas. quando o eremita parte abastado de sua imersão os grous o abandonam, cortejando as gruas. eu nunca vi um grou, eu não sei ser grou, acredito que em minha evolução eu nunca tenha sido um grou, mas posso ter sido e esqueci. eu não vou dizer que queria ser um grou. por que o quereria? mesmo com suas penas urucum, brancas e cinzas, a sapatear delicadamente às margens do rio, os grous e suas gruas são só a vaidade do rio, não minhas. ah o rio... o mesmo rio navegante a um mar caldaloso que o afogará, se agarra as margens para se salvar do mergulho sem fim? peixes contra marés, aves esgueirando, raízes. tudo parece meio rede, meio remo. no fim, o grou vence o canal, e é um engano achar que o rio perde a corrida, ele vence e torna grandiosa sua margem quando se torna o oceano. um transcender da vida, afinal ele não retorna ao ponto de partida. o grou, a margem, o eremita e até os remos das canoas pesqueiras somente, e tão

s a b o t a g e m

eu faço melhor! é o que sempre penso, sussurro e talvez diga entre os dentes ...e não faço. talvez até faça algo com alguma relevância, mas esqueço que faço, nem percebo ou não dou importância, valor, respeito. faço o melhor poema e não recito; o melhor café com leite e creme e não bebo; o melhor livro, conto, prosa e não publico; o melhor bolo trufado de chocolate, mas temo o diabetes - nem provo. é como plantar uma árvore e mudar antes que ela dê frutos. é como fazer o melhor sexo e não gozar. "você sempre pode fazer melhor... é só amar aquilo que faz e no amor não cabe amargura", eu diria se fosse de autoajuda, mas trilhei o caminho da desconstrução. você faz melhor quando está presente naquilo que faz e ponto. quer saber? ...outra hora eu faço. rosa a.

estamos sós

estamos sós! perdidos no vazio e não adianta gritar. o amor se foi às 1:20 da manhã deste domingo. ...se alguém ama, conserva teu amor quentinho. vi o amor se esvair como os 3 últimos cigarros de um maço vazio, saiu pela porta no desbotar do lençol preto, 100% algodão que desbotou nas tentativas de deixá-lo limpo do excesso de uso. agora, sozinha me pergunto onde vamos amparar nossos corpos? onde pousaremos nossas línguas após as novidades do dia? o que será da gente? o que será das crianças quando o amor partir de malas cheias? e desde já eu peço perdão a elas... – perdoem!? eu não consegui seguralá-lo, não tive condições de mantê-lo, eu tentei recria-lo, mas é I M P O S S Í V E L amor sozinho! reconheço meu erro... ele partiu exatamente quando deixei de crer nele e o imaginei eterno, capaz de suportar os revezes da vida, mas o amor é delicado, necessita cuidado. o amor necessita, pede credibilidade e talvez não tenhamos nenhuma. lamento o mundo sem amor, a ausência de mãos sobreposta

O Conto do Esquecimento

Acordei, sem saber que estava acordando para um pesadelo... Logo alcancei as pantufas que Amália havia deixado cuidadosamente aos pés da cama. Notei que só calçava um pé de meia. Não me esforcei em procurar entre os lençóis a meia faltante. Sobressaltado pensava já ter amanhecido, mas ainda era madrugada escura, busquei o relógio no criado mudo e constatei que eram apenas 4 da manhã. Beijei emotivo a foto de minha amada e saudosa Cláudia. Não orei, há muito perdera o costume. Certamente perdera também a fé. Enfim o dia começara para mim, não dormiria mais. Já no banheiro preparei meu banho, meu barbear. Como sempre fizera durante toda minha vida adulta.  Amália costumava chegar pontualmente às 8 da manhã. Haveria tempo então para o café e minha leitura matinal. O jornal já devia estar na portaria a minha espera. E digo a minha espera pois era o mundo que me restara além de Amália e seus cuidados. Amália é aquilo que chamamos de acompanhante, mas é uma mulher indecifrável aos meus olhos

Inside

estou atenta ao meu corpo cada curva um fascínio e alucino meu coração palpita a 80bpm minha respiração flui suave quando  ...me sacio tem um misto de re/pulsa tem um tanto de a-dor-ação e ao tocá-lo  docemente me perdi debaixo de minhas unhas:  delicadas peles soltas  que mordisco em horas de agonia, carne que sangra, resíduos de tudo que toco e um cheiro agridoce  que invadiu minhas narinas  logo após ...tocar o emaranhado de meus cabelos que está em confluência com minha nuca colo, seio e se estende à minha dorsal estou atenta até onde os fios correm, me distraí em meu mamilo esquerdo por alguns minutos, acabei quebrando meu dente ao morder o lençol na tentativa de abafar meu gemido que ecoaria  e embora baixinho acordaria os lobos uivantes do quintal foi como uma inocente que descobri meus dedos eles são longos e delicados suas pontas róseas  quase transparentes contra a luz eles se umedecem  e se aquecem quando com algum afeto toco  ...meu sexo estou atordoada,  pois aquém da carn

a mulher que não sou

a mulher que não sou saboreia o cardápio com garfo, faca e às vezes hashi. segura entre os dedos guardanapos de linho, se delícia em creme de papaia com licor de cassis, vomita no banheiro tudo que ainda não digeriu, bebe Frangelico às 20hrs e enfim levita. a mulher que não sou está farta sobre um salto 15, e dialoga com outros seres fartos em restaurantes com variados perfumes, sem cheiro algum de comida, um desperdício! lagostas, camarões, polvos perfumados a Dior ou Chanel n°5. enquanto disfarça a azeitona no canto da boca antes de descarta-la com a mão esquerda cobrindo o buço, a mulher que não sou, sorri educadamente sem alegria alguma. puro glamour! a mulher que não sou se sente tão suja que se banha em espuma após esfoliar a pele com sal do Mar Morto e se deita em lençóis brancos de 300 fios, num quarto branco, de cortinas brancas, asséptico de tão branco, com temperatura controlada abaixo de 18° complementando a decor que a deixa ainda mais pálida. a mulher que não sou leva uma

Mercúrio em Gêmeos

minha mente está em looping enquanto tento entender o entorno do brilho das luzes ofuscantes sem sucesso ...desisto! o que está oculto deve ser descortinando? tem dias que a vaidade é tamanha que dispenso a sensatez. tem dias miúdos que nem abro as vistas. assim, vou explicar... tem dias que quero comer o mundo, tem dias que ele é meu umbigo, tem dias que vomito até o bilis, tem dias que esqueço e queimo a comida. como posso alcançar o que está ofuscado por estrelas se me distraio e  me distrair me cansa?  ***** meu corpo é minha salvação. a alma já está salva, pois todos estamos salvos se salvação é um dia estarmos longe das maldades do mundo. isso se dá na morte do corpo e este é maculado já no primeiro pulsar da respiração. precisamos da vida, esta âncora que quando içada nos levará a redenção dos impropérios que cometemos e aos quais somos acometidos para que Deus não esteja só ou definitivamente morto. estou atenta ao meu corpo, pois o desconheço diante das transformações da matér

a coisa It

havia o medo, e era um medo danado,e  o medo era a coisa it, daquelas de pensar sem saber o que se pensa e ainda assim gritar: - estou morrendo!  - socorro! e eu me agarrava ao medo, ele era tudo que eu tinha. o medo era um anjo macabro, vestia máscara de palhaço, com um riso de cabo a rabo me iludia. eu me via meio esquiso/doida... alucinada.  ao invés de asas , ou mesmo de uma foice, trazia uma pistola de água que deixava alerta à qualquer perigo iminente. a morte à espreita, qualquer respingo gelado no rosto, ele zombava de mim o tempo todo, e a coisa primeira em mim, foi-se esvaindo, despersonificando. o movimento do corpo, um zumbido no ouvido direito, uma tontura, um enjôo. o coração acelerado, o estranho no portão, o assalto, o disparo!  a loucura era tamanha que uma vez senti um tiro dilacerar minha nuca antes mesmo de escutar o disparo que a cerca de 2 km de distância acertou um bandido... presentir e sentir é caso grave. o ar do mundo era todo vaporizado, sugado, contrito no

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