Mercúrio em Gêmeos




minha mente está em looping enquanto tento entender o entorno do brilho das luzes ofuscantes sem sucesso


...desisto!


o que está oculto deve ser descortinando?


tem dias que a vaidade é tamanha que dispenso a sensatez. tem dias miúdos que nem abro as vistas.


assim, vou explicar...


tem dias que quero comer o mundo,

tem dias que ele é meu umbigo,

tem dias que vomito até o bilis,

tem dias que esqueço e queimo a comida.


como posso alcançar o que está ofuscado por estrelas se me distraio e  me distrair me cansa? 


*****


meu corpo é minha salvação.


a alma já está salva, pois todos estamos salvos se salvação é um dia estarmos longe das maldades do mundo.

isso se dá na morte do corpo e este é maculado já no primeiro pulsar da respiração.


precisamos da vida, esta âncora que quando içada nos levará a redenção dos impropérios que cometemos e aos quais somos acometidos para que Deus não esteja só ou definitivamente morto.


estou atenta ao meu corpo, pois o desconheço diante das transformações da matéria, 

da alma,

da psique...


sim, 

a alma que move este corpo cresce e ganha formas ao superar o que já não nos pertence na matéria e na mente.


não é niilismo, nem é busca de redenção que nos leve a um plano paradisíaco, quem crê nisso?

os cegos talvez.


é o absurdo de existir, resistir

e inexistir,

tão certo quanto expirar, inspirar e pausar... é o intervalo que nos leva a querer mais e mais...

do quê?


do que nos consome?

do que nos leva à algum lugar

e não sabemos a direção, onde? perdidos? perdizes?


não estamos perdidos, estamos de olhos vendados pela catarata de milhões de padrões e tabus que nos sentenciamos viver - expiação!

sem percebermos... é no intervalo que somos puros.

e o que é a morte além de um grande intervalo?


por isso buscamos o fôlego?


esse vácuo, esse oco que chamamos

limbo que nos garante se assim quisermos a salvação, é sim o definhar do corpo que nos salva

enquanto buscamos, mais!

um pouco mais...

do que nos consome e nos alivia.


a vida é narcótica!


queremos a overdose dela, mesmo em leito de morte e passamos a vida acometidos.


olhei as estrelas agora para além de seus ofuscantes aspectos. olhei e só vi o vazio do entorno. 

Rosa Ataíde 

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