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Mostrando postagens de outubro, 2017

retrato

retrato de mim  uma imagem borrada que amarelou no espelho cansada. em idade que não tisna uma lágrima  fincou um borro, um lodo, um dolo, uma nódoa, o ausentar da vaidade? retrato de mim uma culpa que invade e esta tecla repetida  da palavra saudade saudade, saudade, saudade... rosangela ataíde

maré

Fotografia - Sparrek a beira-mar, entre ressacas e marés, os olhos agitados expandem pupílas (submersa) a ventar sudoeste, tragada por fortes rajadas, nadadeiras partidas, âncoras perdidas eu não sei se barco ou sereia, talvez apenas garoupa, talvez marola. os peixes não morrem nem os barcos naufragam estou a deriva rosangela a.

Dialética

o corpo do poema é a palavra: curta, pouca, torta, erguida ou deitada. o poema é o corpo dado a palavra o corpo da sombra é a luz. esta que torna visível, num flash, num golpe de lucidez, esta que delimita as nuances e seus tabus... a luz é o corpo da sombra. o corpo do vulto é o volume. seja vivo ou morto, seja o seio devasso delírio,  o vulto que te assombra é volume. o corpo da água é o espaço. seja pequeno ou vasto, contida num copo, seja qual for a forma, ela se assume... ela é água. o corpo do corpo é a alma. sendo ela essencial, necessária ao movimento. o vendaval interno que nos rege, mesmo quando contida, a alma é o corpo do corpo. rosangela ataíde

muda

esse meu rastro esse meu medo esse meu resto esse meu gesto cuidam do espaço que usufruo e me persigo sem trégua nem régua tem horas ausentes traçadas em rotas fugitivas desertoras em que versa o poema letras palavras trema que me serve de escape quando superabundo de mim este meu ego mudo, meu mundo este meu cheiro de jasmim rosangela ataíde

— doutor, prefiro drágeas poéticas.

minha agonizante mentira retida num céu lusco-fusco minha neura minha chance meu receio quase sempre verbalizo pois sou drama trágica e tenho medo do que sinto o agir me apavora! do céu o tombo é dolorido e por isso agora só me permito P O E S I A ! rosangela a.

eco

Fotografia - Matthias Heiderich diria que ao homem o eco, o vazio da cidade tão raro silêncio soa triste diria que ao homem o eco dos pneus nas estradas se silenciado - ao extremo, o homem silenciado - irá de encontro ao seu lado mais sombrio pobre desgraçado! pois é o medo da próxima curva onde há apenas um pássaro pipitante que o homem - este homem insiste torná-lo um gigante alado muito maior que ele. não, não diria o pássaro. o eco. rosangela a.

à mão

tenho sempre à mão uma virtude e um defeito para quando o medo vem e falta ousadia para quando a coragem sobressai e me torno insolente para que me sirva de esteio tenho sempre à mão -  não reservas - carapuças! que visto em dias favoráveis e de frio tenho sempre à mão o que me convém um perfil que irradia uma ausência tão só minha tenho sempre à mão papel, lápis  um estilete e um punhado de  covardia rosangela a.

silêncio...

aquele segundo que antecede o estrondo e todo caos sonoro dele proveniente o crispar da pele e do pelo a falta de apelo a distração do medo após último suspiro a piscadela o arregalar do olho o leve tremor silencioso o   ESTOURO! s i l ê n c i o ...

boca vazia

fotografia -Federico Mastrianni eu que falo e falo. falo pela pele, pele que cobre o falo. pele que cobre lábios, pele coberta de pelos, pele demente de apelo... eu que falo e falo, pelo gozo e brado forte o regalo, eu que sou ...volúpia eu que sou ...insolente reclamo de boca  vazia rosangela ataíde

De-Flor-ar

o desejo a- Flor-ado gemia contorcido,  entre os ferros e os corpos  da cama  distorcidos. pairava no ar, na pele, a margem da saia rendada que despia... como de-Flor-ar da Flor quando phodia. rosangela ataíde

interrogativa

Imagem - Michael Magin o que há neste poema? minhas mãos, palavras descabidas, meu timbre, minha alma? o que há? senão há, um ponto final e me sobram virgulas? há sempre e sempre (...) e minha mania de hifens sugestionáveis. há neste poema - eu digo - e me falta em outros borros, travessões. e anseio os travessões! há neste poema minha miudeza descrita em letras minúsculas... seminuas? rosangela a .

nino

jazem no quintal as flores minguadas pela alegria que se foi de florir ao seu lado. jaz na casa sua presença. na escova os últimos fios de seus cabelos. jaz no túmulo seu corpo juvenil. mas... em minhas lembranças, vives nitidamente cheio de viço. nino do berçário careca, sem dente recém-nascido. rosangela ataíde

templo corpo

Uncertainty - Michael Magin esta máquina gasta,  corroída, corrosiva. este corpo que me abriga e me obriga definhar dias brancos, planos, tontos e tortos - descabidos eu diria. idas e vindas. mãos que me assumem... poemas mudos, quase táteis. minha alma combalida espalma minha alegria como dias de chuvisco resfriando minha pele, minha alegoria de vida. rosangela a.

para uma vida

uma vida cabe outra vida e mais outra e outra e quantas outras possíveis vidas uma vida cabe ao corpo que pendura ao ar sua matéria e se sustenta sobre os pés andantes e caminha e segue até que te baste este corpo aste e gasto fique quando os calos não se fecham mais quando não basta a essa vida seu destino e segues para outro plano deixando o corpo deitado para trás

um frio na barriga

sentimento algum(?) 'quero um amar. um amar pra toda vida mesmo que platônico, seja insano. um amar para estar viva. mas eu esqueci a letra. rosangela a.

vamos?

Haviz vamos de braços dados e dedos aliançados com os versos que a boca sossega como quando um beijo interrompe... vamos ao altar de nossas emoções, celebremos nosso enlace até que exaurida a lucidez nos cause pausas na memória. ...e tudo transforme as letras em saudade. e de nós reste apenas o descanso da idade, o piar como de pássaro ou o sussurro da brisa quando passa. ai sim,  iremos de encontro ao paraíso onde o poeta pousa e adormece na eternidade das palavras rosangela ataíde

brisa

há uma brisa suave lá no horizonte. vento a varrer o risco longínquo. a extensão do sembrante da terra. há um prumo, um tino e uma ave sobrevoando, indo em partida  para onde o vento levar. rosangela ataíde

era o vento

Agnes Cecile era o vento viajante insensato que corria afoito as cercanias do tempo  trazia em mãos um cendal e esbofeteava em minha árida face sua coragem e era o mesmo vento o errante impetuoso trazendo estrondo como a voz de um berrante e era ainda eu sem brida (in)sensível mirante da vida que passava aguerrida tragada por este vento sentia-me folha a bailar - que no cessar da ventania crescia sem notar em meus trilhos o eco estampido dos meus sentimentos rosangela a

nine

quem sabe um dia isso passa. e descubra eu o encapsulado ato. quem sabe um dia eu me esqueça. o esforço ao redor de ser mulher feita ...e me rasgue, e me dobre, e me derreta, de tal forma a me remeter àquela semente. e descubra eu a cápsula onde me guardo. a minha essência... quem sabe um dia eu reapareça? rosangela a.

carne viva

ela tece  poemas no fiar da pele que a cobre. anda abarrotada nestes dias fiando sinais de expressões doridos e uma cabeleira esbranquiçada que disfarça em louro cinza. e o tecer destes poemas laboriosos, procrastinados, se alongam tanto que falta o espaço sobre o fiar e se derramam então sobre as ancas dilatadas. ela tece poemas na pele no fiar do tempo que a escarnece rosangela ataíde

bardo

que sejas meu bardo e tão logo a via  do meu brado febril que exales  meu cheiro, minha poética, minha insensa/tez sejas meu Cíniras, meu rei ...  minha catarse pural e minha nudez rosangela a.

bem vestida

a palavra que me veste é curta, parca, não me cobre por completo. deixa exposto meus delitos meus conceitos. a palavra que me veste é blusa de renda é vazada onde o - peito - fica à mostra. a palavra que me veste é chama acesa, é quente, não me cabe. a palavra? esta nudez indecente. rosangela a.

as mulheres que me habitam

são muitas as mulheres que me habitam e de todas estou farta cada uma delas tem uma estória tem um conto tem uma prenhez tem um afeto tem uma memória nenhuma delas me completa nenhuma me sustenta por inteira não me assemelho muito  com nenhuma delas todas estão escassas ultrapassadas são muitas  as mulheres e não consigo largá-las fiz uma plano de fidelização no qual todas me prendem numa gaiola e me tornam esta que vos fala esta que tem na ponta da língua sentimentos esta que na retina mira arte esta que tem uns versos esta que tem uns poemas mas que cresceu sem asas rosangela a.

Alentejo

Imagem - Loble sei da noite o blue sei do dia, vertigens  e não me abalo por nenhum conto canto ou choro sei do seio o aperto no peito e da minha cinta a liga que se soltou sei de você saudade... e não quero saber do mar que te leva para o Sul enquanto parto para o Norte minha sorte segue pelo ar e tem asas, a guiar para um rio de águas doces - turvas e potáveis do rio que me aguarda nada sei  além das margens  ...mas na vida, dei um basta às vaidades rosangela ataíde

não chore ainda menina.

hoje a poesia me inquietou. estapeou meu sono, não me permitiu dormir. a poesia gritou comigo. esbravejou em ira, sobre o que há de real aqui. sonora! a poesia não tem limites. quando faz alarde, só se apazígua se me meto os dedos entre os versos. estes em que insisto, mas que não cabem nem um milimetro em meu ser ... e não me permito viver rosangela a.

o que não vemos

rosangela ataíde - escalada não vejo estrelas por estas janelas ofuscadas estão pelo brilho da cidade que pesa mas sei que estão lá no céu penduradas não me abalo por não as ver imagino entre nós um mar onde um ecrã se estende e um longo véu violeta ascende galgo consciente passo a passo um caminho às estrelas da noite chega um ponto onde os pés não bastam, calejam ...então crio asas e começo a sonhar rosangela ataíde

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