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Mostrando postagens de março, 2024

bem fundo

  ainda há tempo não sei desistir no último suspiro vou ao fundo até sentir o peito comprimir de dor - o corpo pego o peixe subo sufocando tomo fôlego ao emergir - já posso respirar! tiro as lascas doces que se misturam ao sal de minha boca saboreio até a cabeça e da dorsal espinha tiro com a língua o tutano danço ao redor desse fogo que te abrasa para que te devore, após as faíscas salpicam na minha pele se eu não queimar junto não haverá fome é guerra, amor selvageria com a corda no pescoço exposição de nervos ao som de atabaques mudos ...mas sou da Paz, só como carne branca rosa a

real

paga-se um preço alto ao se tirar a máscara e ser real o real fica bonito num livro, numa peça teatral paga-se um preço alto... preço de caminhar nas pontas dos pés não que sejamos bailarinos em duetos, um corpo de balé numa adaptação de Pina Bausch, é dança solo onde se esquiva de corações desabitados de faces reais se você grita no alto de um penhasco, LIVRE! ao teu redor os sociais se calam o que se ouve é o eco de sua voz vantagens aqui? talvez o saborear de uma ostra fresca colhida da rocha o sentir o outro, sua respiração, seu coração batendo, saltando nas veias do pescoço, o corpo trêmulo de paixão, as contrações do desejo, do gozo quente, o suor quente... os sociáveis não percebem o gosto das coisas frescas, ou o cheiro delas, querem a fala sensata, o gozo silencioso e virar para o lado e dormir sem saber que esse sono é devido ao relaxamento da carga de endorfina anestesiando o corpo todo eles estão inebriados a Miss Dior e a Pi Givenchy esperando a vez na fila do cinema quere

lord

  estamos à fazer renúncias ao nos darmos às palavras essa é a última vez que olho estrelas aqui de cima deste poema sem métrica ou rima, quando a cidade se apaga e só há as luzes da orla por segurança, estarei de agora em diante a olhar as estrelas pelas frestas da poética tenho uma lacuna que não se completa... ela me faz pensar demais nos riscos, afinal é um poema, e se tropeçar nas palavras, os danos serão irreparáveis... insanos saltos - digo falo sempre de distâncias, de amores impossíveis, de desejos narcisistas, da beleza que há no amor, que devo parecer uma fera louca, sem direção... flecha a vazar o alvo na mata, isso sim, talvez recito em atrevida voz alta, poemas de uma alma elegantemente máscula que não assume a poesia que traz dentro, e que talvez não se afete comigo, mas me toca com seus versos e, como as chuvas de outono encharcam as tardes, ele me encharca corpo, alma e assim as palavras ...eis aqui! ...o saberá meu Lord? rosa a.

a chave

  ShoujoAi -  photokina   Bate-se à porta da Poesia... Uma, duas, três vezes? Aquele que tem sede esmurra a porta! A poesia em sua confortável espera, pergunta... Trouxeste a pena? Eis a chave... Pegue-a. é bonito pensar a poesia serena à espera do poeta que chega nota-se sua afobação dando lugar a pertinente sagacidade e as palavras brotam de seus mistérios, fontes de água viva o poeta sabe o que o levou até ela, o coração é que dá as cartas... a voz, o seu tom as mãos, sua manipulação e com o tempo o seu silenciar eis que numa noite de bruma o poeta descansa a pena sobre a mesa, se levanta, ajeita a porta a grosso modo e se vai e a Poesia permanece serena, iluminada, amante secreta entre castiçais aquele que bate à porta da Poesia deve saber... ela não moverá nenhuma de suas plumas ofertadas para lhe atender, todas são oferendas sagradas de poetas desertores, ou de seus imortais a porta está aberta ...basta-lhe a pena! trouxeste? rosangela a.

todo pesadelo tem seu fim

com um arpão carregado vejo o mar retraído assim, em sonho, é verdade! mas... sem as ondas baterem na enseada fico atenta ao silêncio não me olhe assim saia desse pier, corra procure o lugar mais alto, mais alto se proteja e se recupere dessa ferida deixa que vou ao fundo buscar onde houve o maremoto nessas letras de lavas se esse cansaço permitir consigo voltar à tona junto ao tsunami pegando onda com os golfinhos de minha alma lavar tudo com sal de descarrego e enfim acordar costeira rosa a.

bilhete

são cartas abertas as que retornam secas, duras, afiadas unhas... todas lidas sei, pois nota-se o cheiro de aguardente e um tanto de sangue de quem cortou o dedo ao abri-las, por serem navalhas são cartas de uma lâmina ingênua escritas por mãos frias, quase metálicas, mas destemidas envelopes cheios de maresia, eu sei para camuflar a falta de ...bom tom, o ser corrosivo na torta caligrafia o que esperar como oferta da fibra óptica que nos conecta as almas em um tecido tão fino que rompe a todos os lados que olhamos fixos? a velocidade dissolve potências como o desfazer do crochê por um único ponto de engano no ponto de partida a velocidade das coisas me assustam, a lentidão me desafia escrevo poemas como quem tece a vida neles coloco minhas ranhuras, minhas noites febris, até meu sangue sou eu aqui e não sei disfarçar para ficar bem na foto/fita me ensinaram até, mas fiz questão de esquecer se vais devolver as cartas não as viole o conteúdo Rosa Imagem: Willie Schuman - Leafs (Brazil)
há um formato de brisa que roça a face do poeta, toca suave e por onde passa enrubesce, entoca no lábio ressoante quase sempre um sussurro com os olhos perdidos distantes, a respiração lenta quase um trotar de pensamentos... e eu não sei, qual palavra se abriga nestas linhas que o faz poema, ou se o poema se faz como onda, brisa, trote... é o poema estado de fluxo, consciência? a vida a passar diante o poeta, que não sabe ver apenas, mas quer dedilhar a alma de uma flor, ou do barro que a nutre, ou ainda a água que a rega? onde se contenta o poeta? onde ele encerra o poema? será que se desconcentra? eu o faço... e te declaro poemeu me deito contigo toda noite e não és meu, por seres meu amor. até que estejas pronto, não sei para onde vais, e às vezes você me irrita és apenas um tanto de palavras que se contorcem e acontecem, se esbarram, se entrelaçam e tecem essa renda vazada que deixa o sol entrar suave e dá direção ao vento este mesmo que roça tua face a camada mais fina de entre eu

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