real




paga-se um preço alto
ao se tirar a máscara

e ser real

o real fica bonito
num livro,
numa peça teatral

paga-se um preço alto...
preço de caminhar
nas pontas dos pés

não que sejamos bailarinos
em duetos,
um corpo de balé numa adaptação
de Pina Bausch,
é dança solo onde se esquiva
de corações desabitados
de faces reais

se você grita no alto de um penhasco,
LIVRE!
ao teu redor os sociais se calam
o que se ouve é o eco de sua voz

vantagens aqui?
talvez o saborear de uma ostra fresca
colhida da rocha

o sentir o outro,
sua respiração, seu coração batendo,
saltando nas veias do pescoço,
o corpo trêmulo de paixão,
as contrações do desejo,
do gozo quente,
o suor quente...

os sociáveis
não percebem o gosto das coisas
frescas, ou o cheiro delas,
querem a fala sensata,
o gozo silencioso e
virar para o lado e dormir sem saber
que esse sono
é devido ao relaxamento da carga de endorfina
anestesiando o corpo todo

eles estão inebriados a Miss Dior e a Pi Givenchy
esperando a vez na fila do cinema

querem a cadeira mais confortável
o ar gelando a alma
seguram-se firmes numa mão comportada
e assistem aos atores
tirarem, suas máscaras...
e as jogarem ao chão,
e a isso dão o nome de

...ficção
sétima arte!
e mundo movimenta bilhões

paga-se um preço alto
para se ver real

Rosa

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