a coisa It



havia o medo, e era um medo danado,e  o medo era a coisa it, daquelas de pensar sem saber o que se pensa e ainda assim gritar:

- estou morrendo! 

- socorro!

e eu me agarrava ao medo, ele era tudo que eu tinha.

o medo era um anjo macabro, vestia máscara de palhaço, com um riso de cabo a rabo me iludia.

eu me via meio esquiso/doida... alucinada. 

ao invés de asas , ou mesmo de uma foice, trazia uma pistola de água

que deixava alerta à qualquer perigo

iminente. a morte à espreita, qualquer respingo gelado no rosto, ele zombava de mim o tempo todo, e a coisa primeira em mim, foi-se esvaindo, despersonificando.

o movimento do corpo, um zumbido no ouvido direito, uma tontura, um enjôo.

o coração acelerado, o estranho no portão, o assalto, o disparo! 

a loucura era tamanha que uma vez senti um tiro dilacerar minha nuca antes mesmo de escutar o disparo que a cerca de 2 km de distância acertou um bandido... presentir e sentir é caso grave.

o ar do mundo era todo vaporizado, sugado, contrito no meu peito, abafado e eu queria respirar e não podia. não tinha espaço.

mas o medo, o medo me protegia

me mantinha em uma zona segura

e não arriscava uma unha fora da prisão em que vivia. de tudo, a arma que tinha era a palavra, nunca dita, mas escrita, posta à mesa, salva em nuvem.

aos poucos, ficamos íntimos.

eu e aquele horror só saíamos de mãos dadas.

e um dia nos abraçamos em meio a uma análise. depois vieram outros abraços, acordos, concessões, estratégias, técnicas de respiração, mas foi e em um desses abraços, que

tirei-lhe a máscara.

ele era feio doer e eu ri dele

na cara dura, ri de ficar às avessas, de descobrir o quão corajosa era de ficar alí, do lado daquele mostro medíocre.

foi então, que como um gangster

atrapalhado calçando sapatos largos, suspensório e calças curtas... ou um marido contrariado que foge para comprar cigarros, ele partiu in-dig-na-do.

o infeliz nunca mais me perdoou,

nem adeus disse.

se você não cuida, você flerta com ele e ele te devora e dorme de barriga cheia, bem alimentado.

agora... experimente rir da cara dele!?

o medo é um covarde...

orgulhoso pra car@-alho!


Rosa Berty

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