da vaidade




os grous cortam o canal

pela margem

bailando como fazem as bailarinas.


quando o eremita parte

abastado de sua imersão

os grous o abandonam,

cortejando as gruas.


eu nunca vi um grou,

eu não sei ser grou,

acredito que em minha evolução

eu nunca tenha sido um grou,

mas posso ter sido e esqueci.


eu não vou dizer que queria ser um grou.

por que o quereria?

mesmo com suas penas urucum, brancas e cinzas,

a sapatear delicadamente

às margens do rio,

os grous e suas gruas são só a vaidade do rio,

não minhas.


ah o rio...

o mesmo rio navegante a um mar caldaloso que o afogará,

se agarra as margens para se salvar do mergulho sem fim?


peixes contra marés, aves esgueirando, raízes.

tudo parece meio rede, meio remo.


no fim,

o grou vence o canal, e é um engano achar que o rio perde a corrida,

ele vence e torna grandiosa sua margem quando se torna o oceano.


um transcender da vida,

afinal ele não retorna ao ponto de partida.


o grou, a margem, o eremita

e até os remos das canoas pesqueiras

somente, e tão somente

enfeitam o caminho

o rio é vaidoso enfim.

tavez eu seja o rio, talvez o oceano...


talvez,

apenas o grou

mesmo que não me entenda animal, ou parte da paisagem.


rosa a.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Despossuídos de Corpos

interno e final

O CONTO DE UM ESPETÁCULO SEM GRAÇA - Roteiro