Segure-se


Breno 3 dias de nascido
Segure-se a um cardeal
para que não se desoriente,
entre as palavras que sussurrarei à você.

Agarre-se a este fio,
onde pousa sua esperança
e se comporta a existir. Sem medo.

Há labaredas entre nós.
Labaredas ardentes
e elas nos afastarão por determinado tempo.
Mas hoje segure-se.

É hora... Sabemos. De ceder
os planos que pensávamos
um dia ter às mãos.

Segure-se, por favor, a um cometa próximo,
porque quero te levar ao céu.
Em segurança, te trazer de volta,
para onde deves permanecer.

Uns dias você segurou minhas mãos (eu lembro)
e elas ainda eram pequenas, menores que a sua.
E com toda coragem deste mundo
me ensinou a caminhar a passos curtos.

Uns dias você me banhou e levou a escola,
por um caminho verdejante onde apertava minha mão em segurança.

...Quando lia minha caderneta e assinava
materna e responsável, eras minha rainha.
Quando servia meu prato favorito, era a melhor mãe do mundo.

Lembra do choro do menino do parto
que você se esforçava para reconhecer no berçário,
entre outros tantos, meninos e meninas?
Buscavas sem ver!

Lembra quantas broncas por amor e medo de perder?
Lembre vai! Bem rápido... Como quando vem a sensação de não mais ver
e tudo passa pela mente em um segundo.

Então, lembrou?
Então... Valeu a apena?
Valeu. Sabemos.

Sabe agora... Quando chega a hora
e as labaredas acesas ardem?
Ardem, pois se aderem a alma.
Por que muito do que fui feliz,
sofri também. Lembra?

Não, não caia. Não é assim que quero te ver.
A saudade em mim latejante, não cabe neste céu, neste mar ou chama.
Mas tenho à frente uma nova maneira, sem langor
ou um sistema que me delimite o pensar e o ser.

Eu amei, amei de verdade.
Poucas e por vaidade. Mas amei.
Eu chorei algumas tardes, algumas manhãs,
mas nas noites sempre sorria.

E posso dizer que é do amor deste tempo que sinto e pondero.
Quem ama como amo, sem baliza ou freio.
Sabe que o amor não é derradeiro.

E quando chegou aquela tarde, tão cinza,
tão fria...
Tão vazia de mim e da gente, quando minhas mãos eram pequenas.
Que segurei fortemente com toda minha garra,
nas mãos daquele que me recordo agora.
Deu-me mais que a vida, me deu a alma.

É por isso, que preciso agora
que me dês a liberdade, para ir sem covardia

Há um novo sol, eu prometo.
De ti levo, este laço que não se apaga,
mas que desfaço, pois não permito que sigas
infeliz, e que em ti fique esta cicatriz no peito, desmerecida.

Desfaço o laço, minha querida.
E o amor, que me deste levo comigo.
Adeus, eu te amo!
Pegue este beijo que jogo ao ar e coloque-o no peito.

Até mais!



Por inspiração
10-2011
rosangela ataíde

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