humana



estou aqui
e sangro mês a mês.

minhas vísceras estão cheias de ira, culpas e medos.
as borboletas seguiram seus caminhos

eu estou aqui
sobre a mesa do jantar
acompanhada de um vinho barato comprado na esquina.

tenho a minha volta lençóis machados
de outras que como eu
foram servidas à sangue frio.
...partos doridos
andares combalidos.

me acomodo à varanda para respirar
enquanto fumo.
ver o véu que o céu estende daqui ali,
estrelas.

estou perto ou distante? não sei.

os talheres eu lavei,
os pratos estão lambidos,
possuem minha saliva,
minha química,
mas só resíduos.

à luz de velas
um arranjo de cravos mortos
que encontrei entre as páginas de um livro antigo.

estou crua como sempre,
temperada ao vinagrete...
ceviche de humana!
carne de gente ainda viva.

                              rosangela a.
ilustração Martine Johana

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