Quem é você?
"O seu valor não está no que você oferece as pessoas, ou nas coisas materiais que você possui. O seu valor está em quem você realmente é em essência."
Meu sonho se encerrava com certa semelhança com uma das cenas do filme Cidade Dos Anjos do diretor Brad Siberling. Estava em um hort-frutti com meu anjo escolhendo peras enquanto ele divagava sobre valorização humana quando ele fez a pergunta e a afirmação acima.
Eu explicava a ele o quanto estava engajada em agradar as pessoas ao meu redor em busca da valorização destas pessoas, em busca de reconhecimento, como quem buscava receber amor através de prestação de serviço... Oferecendo amor através da minha doação, de doar meu tempo e de alguma forma eu percebia que estava agindo de forma errônea, e me questionava sobre meu real valor no mundo e nas vidas as quais queria tocar de alguma forma.
A questão é que embora soubesse de meu engano, eu não sabia o que fazer com a informação de que transmitia ao mundo o contrário do que de fato queria...
Autossabotagem, ignorância? Nem uma coisa nem outra. De alguma forma ele me fez entender que minha essência exalava de mim mesmo que eu me reservasse a não transmiti-la ao mundo... Mas por que agia assim? Eu me tornara antissocial demais para aceitar trocas verdadeiras, trocas profundas. Tudo em minha vida havia se tornado raso, e minha superficialidade chegava ao extremo de apenas me relacionar com o mundo através da tela de um computador ou de uma aplicativo de celular.
Talvez eu estivesse cansada apenas. Cansada de olhar no olho do outro e com este simples olhar transmitir meu companheirismo, minha capacidade de estar junto, de me envolver. Eu compreendi que minha essência consiste naquilo que eu deixo de falta. Que falta eu faria aos meus, caso faltasse? Essa pergunta é cruel e submersa em uma catarse, ela já me fez ter crise de pânico, ela me fez chorar, ela virou até um poemeto, ela me fez pensar na real possibilidade de suicídio... E não faz muito tempo. Mas ela também me trouxe a possibilidade de buscar saber quem eu sou de fato, e o quão amável eu posso ou não ser.
Eu queria ser parceira, eu queria ser útil, eu queria ser entendida como alguém desprendida das coisas que possuía... Mas esses detalhes, não me faziam nem me fazem ser quem eu sou de fato. Apenas demonstram minha persona, meu ego, mega estruturado nos meus conceitos de "Ser" amada e querida pelas pessoas que amava e amo. Conceitos estes adquiridos ao longo da vida e de minha ancestralidade.
Eu entendi o que é ser amado, o que é a essência de um ser, quando meu filho mais velho partiu para o plano espiritual. Ele costumava fugir de casa e ficava vagando pelas ruas, às vezes por 1 mês, às vezes por 15 dias e nesse vagar, pelo mundo ele ficava sem tomar banho, sem ao menos trocar de roupas, mesmo embora fossemos de classe média e ele tivesse todo recurso para o seu bem estar em casa. O que ele deixou de falta em meu ser? Eu lembro que quando ele chegava em casa eu o levava direto ao banheiro para um banho, cortava suas unhas, seus cabelos e logo que ele se foi, num paradoxo ridículo, eu catava os fios do cabelo dele pela casa e guardava suas roupas sujas só para sentir seu cheiro, alguma coisa de sua presença. Mas não era o seu mau cheiro ou restos de sua matéria que eu buscava, mas sim aquela linda essência de liberdade, amor incondicional, alegria e coragem que eu tanto admirava que eu queria de volta.
Mas o luto foi cruel e passei a desprezar este profundo aprendizado e me soterrei no mundo ao qual Zigmund Bauman chama de Modernidade Liquida. Há alguns anos eu sofri uma EQM, e posso afirmar que talvez este seja o motivo de eu estar aos poucos me resgatando dessa morte em vida.
Eu ainda não sei dar esta resposta tão intrigante sobre quem eu sou de fato... Mas hoje posso garantir que minha atual interação com esta Modernidade Liquida se dá apenas como forma de observar a vida por várias perspectivas. Eu estou aberta a vida seja qual for a forma em que ela se apresentar, até mesmo pelo desenvolvimento de uma planta ou o comportamento de um animal.
O que percebo de fato é que somos seres que além de sentimentais, somos seres animais, com toda nossa ferocidade, com toda nossa humanidade... Somos todos imperfeitos e nos tornamos perfeitos em nossas imperfeições.
Eu realmente ainda busco minhas respostas, mas já não choro por elas (só às vezes), já não sofro de pânico. Mas ainda escrevo poemas e alguns textões! Já quanto ao suicídio... Eu digo que amanhã, ainda quero sentir o sol, o vento, a chuva, a presença de meu filho caçula, o perfume das flores, o toque do meu amado... Eu estou vibrante com a vida, mas continuo minha busca que chamo de meu despertar que mais tem de espiritual que de simples análise comportamental.
E você? Já começou sua busca por quem você é de fato?
Conhece a ti mesmo?
Gratidão.
rosangela a.
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