geistgeist
de onde estou não vejo quase nada do que existiu.
nem ruínas,
nem o ruminar das palavras que aprendi,
nem do zelo esquecido.
não sobrou o belo,
nem o saboroso,
de onde estou nem o assombro...
o que era feio também se foi
e hoje estou livre.
bati a porta atrás de mim
e joguei as chaves fora.
galgo num passo lento,
baixa velocidade,
pés na areia
que embora escorregadia,
me mostra um horizonte dantes perdido.
existem pedras, desníveis, conchas pérolas,
existem esferas que se diluem em minha boca
sempre que suspiro.
existe também essa vontade.
quase fome!
de me saber zerada
até das parcas lembranças que insistem.
pena não poder zerar a vida.
nem um rito
nem o ritmo.
recomeço ciente
que tudo que vi,
vivi e aprendi
não se joga ao léu de um vazio.
talvez os resquícios sirvam de liames
para uma nova corrente
que torço, pelo bem
de tudo que aprendo agora,
sem as amarras de uma aliança que nunca me calçou bem,
pois meus dedos coçavam e ardiam.
se antes não havia um deus se contorcendo
enquanto o mundo todo gemia ao meu redor...
agora vislumbro
elos que formam arcos do infinito
tatuando minha pele.
e não sei o quanto vale,
se mereço, se demora...
mas eu decorei o cheiro, a cor,
o endereço.
e me cabe com extrema perfeição
que delego ao tempo
concluir se evoluo ou retrocedo nesse espaço sagrado
ao qual dedico minhas noites, minha carne
e meus suspiros.
e eu escrevo é sobre liberdade,
infinitas possibilidades...
eu escrevo de uma vida inteira que recomeça nessas linhas.
enquanto enterro o passado a cada dia.
rosangela a.
Imagem: Hannes Caspar
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