entre mágoas, pontos e cicatrizes... vou coser uma colcha de retalhos


o fio passa pela ferida atando um lado ao outro, o fio de coser palavras, mirar espelhos, de bordar as dobras, de enrugar paisagens.
se segue uma trilha, amarra a outra.
— não tem jeito!
parece trem de partida, talvez pudesse ser de chegada, mas é trem que retorna fidedigno. 
— este fio é como trilho de linha férrea!

eu de cá, sob meu ponto de vista... me abro para deslisar meus cabelos sobre o colo dando nova rota, novo destino, nova poesia, nova canção. até mesmo novo abraço sobre o peito aberto que me recebe.

este fio traça nova linha no meu olho, desfigura a curvatura das maçãs de meu rosto aumentando a covinha lateral quando rio de emoção. ou se eu chorar... talvez.

nós nunca sabemos até onde foi o rasgo, até abrir o tecido. se vai precisar de mais linha, se vai dar mais corda, trilhos ou dormentes.
 e se sobrar ausências?
 e se a gente for meio que moldura fresca em mãos de artesão?
é meio que crer em ponto cego, contar apenas com o reflexo, ou com o dedo que desliza pela argila umedecida...
nossos corpos,
nossos rastros,
nossas trilhas... nossos remendos.

envoltos um no outro precisamos ser delicados ao tocar nossas almas. um cuidado de quem toca almas resguardadas.
é necessário entender silêncios, verdades ditas entre os dentes, sussurros, inseguranças, calmaria, distâncias, medos...
— c u i d a d o para não abrir mais feridas!

antes de qualquer coisa é necessário ser Paz...
mais necessário ainda é entender que amor, é este remendo no qual furamos os dedos a cada ponto.

— e quem disse que não ia doer um pouquinho? 

— em Beirute hoje todos choram. uns de dor, outros por não terem a oportunidade de remendar a vida. tem cicatrizes que ardem a vida inteira! acho que somos abençoados, mesmo que estejamos todos feridos.

rosangela a.



Comentários

  1. Rô, lindo, remendos da vida, buscar equilibrio e paz mesmo quando tudo parece imposssel (caso de Beirute); realmente, muitas vezes uso de fio para coser palavras, e o amor, seja para quem for, ate um filho, nossa... quantas vezes furamos os dedos. Bjs

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    1. Só agora vi teu comentário Fadinha... Assim me sinto diante das palavras
      ❤️
      Obgda.

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