As Preteridas
Há notas sutis entre o dito e o feito.
Como laranja viçosa quando se faz fita
e o que se tem é puro amargor.
Quando você diz saudade,
mas perdura em ausência.
Aquele que te acolhe ao peito
deveria dar prova
do doce aguçado em presença,
nunca o esquecimento das horas tristes.
Se das diversas flores fostes escolhida,
é bom saber
outras flores foram semeadas ao teu redor
e todas exalam fragrâncias
e talvez tuas raízes se encontrem
debaixo do solo fértil que lhes deu vida.
Jamais serão esquecidas,
ou deixarão de ser regadas.
O jardineiro nunca é fiel a uma única flor,
nem mesmo o colibri o é quando a beija...
seja pelo perfume, pólen,
ou pela exuberância aparente.
Todas são preteridas no abandono
e a colheita não perdoa nem os brotos.
Nenhuma sabe llidar com o trágico medo do distanciamento,
quando o jardineiro
bate atrás de si o portão que leva ao jardim, mesmo que diga "tu és a flor mais bela".
É com um gesto sincero, muitas vezes radical que se percebe o medo e só assim a coragem vinga,
e se encara o sol queimando as pétalas,
e um solo desnutrido pela falta de zelo.
Ainda existe o ar, a brisa, as nuvens formando dias de chuva.
E certo é o florir novamente mais adiante.
Flores são singelas é verdade,
mas no final, rompem pedras,
concreto armado, asfalto, ladrilhos...
Isto tudo pode parecer delicado,
só que é pura força bruta.
Mulheres também são assim, delicadas...
e ao mesmo tempo,
tão brutas quanto as flores.
Nada a declarar sobre o jardineiro...
rosa a.
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