as mulheres de minha vida


 


ontem pela manhã ao tomar banho, notei a água escorrendo pela minha pele.

eu sentei no box com com a água molhando meu corpo...

chorei, chorei, chorei

até sentir de novo aquela dor no peito de tristeza.

eu lembrei de uma mulher me banhando no dia 15 de agosto de 2011, enquanto outra mulher aguardava na delegacia a testemunha e, outra estava no IML para reconhecer o corpo.

lembrei que também estava sentada naquele box do casarão, lembrei dela passando a bucha vegetal pelas minhas costas, seios barriga e da delicadeza ao deslizar as mãos sobre a cicatriz do parto. a mulher secou meus cabelos me vestiu com meu roupão branco, me conduziu a cama e me preparou um chai e depois enquanto tomava o chai ela penteava meus cabelos, permanecendo ali até que eu dormisse. quase não trocamos palavras, mas quando nossos olhos se encontravam era como se uma neblina os cobrissem de mistérios.

após um tempo levantei do box, desliguei o chuveiro e sequei as gotas de água como se cada uma delas fosse uma ferida exposta na minha alma.

eu lembrei do sorriso do menino.

eu lembrei de cada bronca.

eu lembrei da voz na janela dizendo,

"Mãe, cheguei"

eu lembrei do delegado pedindo que me tirassem da delegacia.

eu lembrei da certidão de óbito nas minhas mãos.

senti uma saudade sabe?

mas nestes vórtices a lembrança daquela mulher, daquele banho reconfortante de 2011 foi o que mais me tocou.

só o sagrado feminino é capaz de banhar uma alma aflita.

só o sagrado feminino é capaz de ler do que outra alma tem fome e sede.

eu sou grata as mulheres de minha vida.

todas elas.

rosangela a.


2011 o ano que meu mundo partiu


Imagem Nora Lowinsky

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