itinerário

 



tem uma estrada longa
   onde piso no acelerador
       pós cada curva

ela me leva a um desterro
- me expatria 
  para além do contorno de meu corpo
  ela me expele como um gozo pós coito

uma única vez parei no acostamento
 - pneu careca
   retrovisor quebrado
   radiador furado
         
uma única vez para para abastecer
  por pura conveniência
  tentei abrir o porta malas
  - quebrei a chave

eu já não me cobro tanto pela bagagem
ela faz parte das coisas que não tenho controle
as coisas que me introduziram pelos orifícios 
aquelas que se joga no campo das coisas já resolvidas

via sem retorno

tentar me desfazer de tudo que não me pertence
a essa altura... acredito ser impossível

agora que assumo o caminho
peguei uma trilha cheia de buracos
e não sei o ponto de chegada
   sequer percebi o de partida

   - mas tem esta coisa 
aproveitar o ar entrando pelos meus pulmões
enquanto minhas narinas estão entupidas

rosangela ataíde


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