Matamos o Amor



Matamos o amor.

Eu estive observando debaixo deste calvário

as suas poucas vestes,

o sangue escorrendo enquanto

ele agonizava silente.


E eu queria salvá-lo,

dar-lhe de beber o néctar da vida,

descortiná-lo até o caos, para resgatar os imperfeitos dentro dele.

Soar palavras de encanto enquanto

minha língua deslizasse sobre tua orelha

e estes espinhos fossem minhas unhas dilacerando suas penas brancas, tão cheias de Paz.


Mas matamos o amor.

Ali no alto daquela colina,

provavelmente por covardia.


Antes de matar o silenciamos ao extremo

Mas o amor foi insistente...

ele sobrevive em paisagens tranquilas

e até a dura inércia dos dias tolos.


Sim, matamos o amor por medo,

já que o medo promove a falta de fé

e a desconfiança seca até os pântanos da emoção.

O contrário de fé deveria ser pedra já que embrutece qualquer peito. E todos traem diante da desconfiança.


E ainda sobre o medo...

Creio que não exista nada que corrompa mais os seres.

O medo te leva a abrir o coração e até as pernas a qualquer ordinário quando não se quer ficar só, frente ao desnudar de uma alma inquieta mesmo que a tua.


Eu tenho medo agora, e não acredito em nenhum coração benevolente que queira me apertar sobre um dorso abrasado e lábios igualmente cálidos.


No final é tudo carcaça que o tempo apodrece.


O amor morreu e não sei o que fazer agora.

Se ele ressurgisse dentre os mortos eu também tocaria suas feridas afim de saber da veracidade dele.


rosangela a.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Despossuídos de Corpos

interno e final

O CONTO DE UM ESPETÁCULO SEM GRAÇA - Roteiro