Cybercafé
Sussurrar palavras aleatórias
em páginas digitais...
ninguém as ouve.
A cursiva está abandonada no velho caderno de espiral...
Quem as lê?
Talvez no sepultar, alguém as busque para um epitáfio decente e breve
- imagino -
De que valem as ideias em tempos de ausência de sentidos, em que tudo evapora é líquido e inflamável?
- cuidado com a bala perdida,
- cuidado com as áreas de risco,
- cuidado ao dizer adeus ao menino
Seria a vida a nos escapar pelos dedos, ou a lançamos fora, fartos dessa humanidade, humanamente infeliz e adoecida?
Apagam-se os rabiscos a lápis e o tinteiro está vazio.
O livro impresso perde o cheiro e o tato,
um pouco do delirar também. Mas isto é só uma teoria.
- eu creio -
Visto que estamos dispersos,
somos ocupados virtuais...
E deve ser só isso!
Ou guardamos tudo nas estantes
antes de queimarem os livros?
O passado está guardado atrás do tempo gotejando sobre a mesa
uma pintura surrealista.
O futuro já é de dedilhar
- apenas cliques -
E até os pincéis estão secos cheios de nostalgia e enfim a arte é feita de bits.
Os poetas protestam em vão em redes sociais... esquecidos de seus escritos?
Talvez condicionados a novilíngua e ao duplipensar provocado pela conexão wi-fi e o navegador preferido.
Muito maior que qualquer guerra armamentista é o tempo líquido que se inicia.
Mas isso não é de todo negativo, embora não veja vantagem alguma na superficialidade e na frieza aguda dos dias.
Nesta hora fico pensando o que levou o homem a matar Deus, mas sequer sei quando foi que O inventamos e só sei que não podemos viver sem Ele.
Somos todos "um" ainda que encaixotados em nuvens nos nossos monitores ou endereços virtuais.
Um coletivo emaranhado de seres que pensam que pensam... Eu imagino.
Esqueçamos a velha ideia de que "você não é todo mundo".
Somos parte do composto químico/bio/físico Planeta Terra e não existimos sem Ela também.
Somos dependentes uns dos outros, crosta terrestre, lodo da Terra. E acredite, nossa conexão vai além do provedor banda larga ou do sinal da rede móvel que nos impera
Ainda neste tempo de destempero...
Somos "luz do mundo, sal da terra."
Ou seria eu poeta de palavras entranhas'?
... Não sei o que dizer sobre isto
.
rosangela ataíde
Ilustração: de Martine Johanna
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