Qualquer Canto



Tive muitos dias de sorrir diante de palavras quentes.

Tive muitas noites de chorar diante da aridez das vozes traiçoeiras.

Mas só eu sei,

dos dias de canto no auditório imaginário da minha sala...

Mas só eu sei,

dos dias de mar e dos megulhos em águas tranquilas.

E se eu voasse agora

teria o céu e as nuvens que qualquer vento sopra para longe

...Qualquer lugar incerto.

E se eu cantasse neste instante, a música  pareceria melodia triste jogada num prado

e minha voz é disfonica em descampados.

Do passado que me atormenta só ouço ecos. 

E digo adeus a tudo que me feriu a carne.

Themis que sou, ou rainha de espadas... 

O que é justo pago com justiça.

Prefiro o mar com sua dança,

Balé de ondas.

Ancorar em um porto

segura e serena.

Quase sereia.

Me faltam nadadeiras, escamas talvez.

Um pouco de coragem também.

Pérola? 

No mar tudo é sonoro.

E nem as aves escapam, 

embora estejam sempre em partida.

Praiana que sou, só topo o canto se tiver um horizonte azul, um risco cortando a Terra dividindo tudo que excede, líquidos, vapores, areia. 

Aí sim eu canto, mesmo que fique muda diante de tanta beleza.

Aí sim eu entro neste vórtice de  alegria, pois eu só sei dos dias musicais e das ondas em dias de Sol.

rosangela ataíde

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