é madrugada e o céu transborda

o mesmo céu de chumbo

o céu que outrora observara

em luto


da varanda

evito cerrar os olhos que pesam


pensar no amontoado de cães

que partiram sem dizer adeus

é enlutar o peito


acho que vejo tudo

como um enlatado de corpos

prensados sem a piedade

macerada de um cigarro

que trago copiosamente


tudo jaz

e o que não jaz ainda

tem seu tempo


e quando se enluta

se questiona os limites


o que há de mim

naquele que se foi

o que há de mim

naquele que irá

o que há em mim de todos os ausentes


talvez apenas o tempo

e ele não existe

o passado que se foi - acabou

o presente que não há no segundo seguinte

o futuro que não se sabe 

- nada é previsível -


se fosse divisível 

(e não descarto nada)

talvez alma

ou partes dessa anima

que nos mantém dispostos a caminhar



mas aqui neste espaço, só vejo cinzas

as cinzas do cigarro

a noite cinzenta de chuva

a tristeza cinza

cinza tristeza

triste

rosangela a.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Despossuídos de Corpos

interno e final

O CONTO DE UM ESPETÁCULO SEM GRAÇA - Roteiro