Desvio
Olhamos a beira do abismo e nada vimos.
Nem o medo, nem o obscuro.
Apenas o eco desprezado
de uma fria madrugada.
Nenhuma coragem insana, nenhum pavor atrofiando o corpo inteiro.
Olhamos o horizonte e notamos a tênue linha escura que contrasta entre o céu e o oceano.
Olhamos quando só resta o vazio.
— O vazio é apavorante?
Olhar o intervalo entre uma nota e outra
... Que antecede a primavera, a reparação das estações férteis e ensolaradas.
A mulher grávida,
A prenhez do renovo.
— É quando tudo ganha sentido.
— O reflexo nas águas!
— As flores preparando as frutas...
— Estamos mais sóbrios agora...
Didaticamente mais educados?
Acho que não aprendemos nada.
— Os meninos que sobre os livros debruçam seus peitos trazem a esperança de dias de longevidade mesmo que estejamos todos condenados a tempos escassos. Mas certamente eles superarão tudo isso.
É importante acreditar no azul, no verde, no vermelho aquarelável sobre o papel esparramado. Toda arte é importante e em dias de luta parece resplandecer em todo canto.
É importante e talvez essencial a existência, é no vazio, ou naquilo que chamamos intervalo que tudo entra ebulição... Arte, amor, trabalho, vida, consciência.
As pitangueiras estão floridas agora. É uma pena que existam tão pouco delas.
rosangela a.
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