Ônibus do Terror
Estava vindo de Maricá para Niterói e no ônibus dois homens conversavam com bastante entusiasmo. Parecia que não se viam a muito tempo e que um deles estava morando em São Paulo. E conversa vai, conversa vem, um deles falou que estava se juntando a uma outra mulher que estava vindo de São Paulo. Quando o invejoso, asqueroso, mal educado, mal diagramado, provavelmente eleitor do Coiso, retrucou:
— Você não aprende não cara? Quer levar chifre de novo? Vou te contar, você é muito corajoso. Mulher é tudo vagabunda. Não salva uma sequer. Vai te botar chifre, você vai ver. Eu não quero saber de mulher nunca mais! Eu não gosto de levar chifres e todas elas se sentem no direito de fazer isso com a gente.
Ao ter um pequena brecha quando o asqueroso parou de falar para tomar fôlego ou refletir sobre o chifre que provocara o trauma exposto acima, e para continuar nas afirmativas ultrajantes às mulheres ou outro ensaiou uma frase.
— Não é bem assim, tem suas excessões.
— Tem nada! Deixa de ser tolo e aprende uma coisa... Mulheres, depois da Lei Maria da Penha se sentem no direito de colocar chifres na gente já que nem uma boas porradas podemos dar nelas. Por isso eu pego, fico no máximo dois dias e descarto, quando elas vão ver, já estou com outra vagabunda. Daí elas se engalfinham por minha causa e quer saber? Nem me meto, ainda fico rindo por dentro. Bando de otárias. Eu odeio mulheres. Nenhuma me engana. E tem mais, só pego as vagabundas que já tem casa... Aprende isso também, as que não tem casa entram no barraco da gente, não saem mais, aí tu quer expulsar, dá umas porradas, elas vão na Maria da Penha e a Lei Maria da Penha te põem para fora de teu barraco. Eu odeio mulheres!
Isso dito aos berros dentro do ônibus que estava vazio, mas no qual se encontravam umas 4 mulheres. Eu e uma jovem estávamos sentadas perto dos sujeitos. A jovem se levantou e sentou mais a frente quando o mais pacato, que parecia horrorizado com as asneiras que estava sendo obrigado a ouvir disparou:
— Manera amigo, você está assustando as meninas.
— Meninas? V-a-g-a-b-u-d-a-s! Acredita em mim, tudo V-a-g-a-b-u-d-a-!
Dito isto, assustada também, me levantei e sentei mais a frente, até pq meu ponto estava chegando. Na minha mente pensava em ao descer chamá-lo de corno amargurado. Mas respirei fundo. Pensei no equipamento caro que trazia comigo e deixei quieto.
Desci do ônibus e ele ficou lá repetindo tudo que já havia dito antes. Tipo aquelas pessoas amarguradas, repetitivas, espumando ódio, contraindo um câncer, um infarto do miocárdio, ou até mesmo uma cadeia por feminicídio.
Eu saí de um casamento com uma mão na frente outra atrás, depois de ser muito corna, nem sequer o que tinha antes de morar com o sujeito trouxe comigo, depois de ser agredida verbalmente das formas mais horríveis possíveis. Dá para entender minha revolta? E quantas mulheres já não passaram por relações assim, e quantas mulheres morrem por coisas deste tipo diariamente?
Não consigo digerir o fato de ter que me calar diante de tal coisa. Tô passada!
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