Cartas que ele não lê II




Amor, o amor é frágil, e toda robustez o sepulta.

Nós vibramos na mesma escala

com as cartas abertas sobre a mesa

e a cama pronta pro embate.


Nos equilibramos na mesma corda,

bambos.

Entre uma queda e outra

nos seguramos.


Faces opostas de uma mesma moeda,

valores em alta, propensos a queda.


Apertamos o nó da gravata ou do echarpe,

sufocamos ao extremo, 

nossas coleiras, domesticados.


Depois desatamos o laço,

fluidos emaranhados,

não aceitamos a falta.


Ainda agora percebi,

segue-se novo desafio...

Agora temos o uso obrigatório de máscaras 

e você se nega a usá-las por puro disfarce.


Preferes o muro interno que te protege?


Nós dois estamos desfigurados! 

Não percebestes?

Nos falta confiar, e sem saber se devemos,

perdemos a linha pelos infiltrados

que não nos pertence, mas nos tira o foco.


Uma hora o amor eclode/explode,

vira correnteza

e nos arrasta.


Talvez nessa hora estaremos de mãos dadas...

Talvez distantes,

buscando a morte na completude entediante.


O amor é um pêndulo no divã,

sabe?

Um looping entre o céu e o inferno

quando nosso disco já está arranhado.


Hipnotizante?

Frustrante?


Não sei, talvez seja apenas apego

E assim pensando, anulamos qualquer possibilidade

de nos amarmos de verdade. 

Quando o amor é tenso, 

mas tem tempo de gozo, 

ondulações incosciente de prazer e ira.

Isso é real e definitivo, 

mesmo que não siga adiante.


Segura minha mão, agora?

Elas estão geladas!

Ouvi dizer que tudo não passa de carência

e ansiedade...

Mas eu gosto do calor de seu toque

e de te ver feliz 

quando estamos despidos 

de nossas angústias e vaidades.

Quando você segura o joystick e se perde em seu mundo menino.

E quando cuida de meu mundo fora de esquadro.


E se isto não é amor o que seria este zelo

e este elo que não se rompe,

mesmo quando fazemos cabo de guerra?

Eu quero seu olhar atento, sobre nós, amor...

Antes que seja tarde.


rosangela a.

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