o mundo é doce e cruel 

na mesma proporção que cabe

nas duas mãos


espreitando as certezas

que não existem

essas mãos tateiam ilusões


só me dei conta que

ando num mundo de incertezas

ao me deparar com as fugas

os crimes, o desamor, a solidão

a morte... essas avarezas tristes

de estar encarnada


de certo que as coisas mais certas

se dissiparão


o amor

a permanência

a retidão

a felicidade

a vida em si


ando no mundo que tento paralisar

enquanto este corre a velocidade da luz

para onde não se sabe


nem ele


me agarro a este momento

amanhã a outro mais fugaz

marco o tempo em minhas mãos

como se estas fossem uma ampulheta

que sempre finda


nelas ainda tento 

como numa balança

conter os efeitos das incertezas

equilibrando o peso 

do que na verdade

é vazio...

ilusório


estou estática,

deveria correr com o mundo

e de certa forma corro

me agarrando ao nada 

que penso ser permanente

pois estou quase feliz

...quase


  a felicidades cega a gente 

  a tristeza abre as vistas

o mundo gira e se movimenta

no espaço

voraz


as coisas a que damos importância

também estão se movendo

às vezes elas partem

(é certo que partem)

e deixam de ter valor

às vezes voltam 

e sacodem nossas cabeças

nossos corações

o corpo todo

para partir novamente


se incerto o é...

de que adianta ficar estática

ocupando as mãos


- acabei de ver um filete de água brotando entre pedras

lavarei minhas mãos 

e com minha boca

beberei este mundo


quem sabe ele sossega

e eu consiga dormir

e dormir significasse

ter de volta o cheiro e as cores 

dos sonhos

que não tenho mais

.


rosangela a.

Imagem: Maria Vlachou

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