volátil - 05/03/2021



tua boca brilha sob a luz da tela e eu a observo triste. não me pertence mais, eu sinto.  se é que possuímos algo além de nossas memórias, e os nossos odores sobre as cobertas na cama.  

a marca deixada pelo laço do ósculo na madrugada, nesta mesma sua boca sob a luz da tela, não se desfaz por completo mesmo que insista. pois inevitável, a troca de fluídos faz alarde de certo modo, e, ou ainda por favor, pondere  em algum tempo.  há de lembrar saudoso eu sei... ainda que para disfarçar o faça sob escárnio.  e eu serei apenas um nome riscado na sua timeline e um apelido degradante na mesma boca que observo triste sob a luz da maldita tela que te fascina.  

como tantas outras bocas deixadas para trás, como tantas outras virão após a minha de certo. as mesmas bocas úmidas, riscadas por qualquer batom escarlate ou nada além da carne. outro nome qualquer na sua timeline a agitar com o mesmo destempero seu ninho cyber intocável. teremos então  outro nome riscado a virar passado, outro apelido medonho. outro e mais outro... outras e outras e quantas forem capazes de suportar um amor descuidado, ou de te transformar num cordeiro pronto para o abate. - eu não acredito muito nisso, mas sei, o medo transforma qualquer miserável -  

e isso tudo é como um cordel triste de amor que penso, pondero, relevo mas aos poucos deixo de fazer parte, embora desejasse um mergulho mais profundo entre todas essas nuances.   

tem um pássaro que pousa em meu ombro direito e ele pia sobre novos tempos, coragem, amor próprio, esquecer migalhas... e voa probo, anunciando as graças de que tudo que nos afeta...  


- deixa te falar antes sobre afeto: 

aquilo que te deixa sutilmente de forma triste, alegre ou angustiado, aquilo que se agarra de alguma forma no seu peito e o arrebata -  


ele, o pássaro fala do mais puro sentimento e do pesar de saber que qualquer sentimento não vale nada se não for recíproco (você se sente afetado?).  mas de uma forma ou de outra, após fincada a bandeira em nossos corações deixa suas marcas e às vezes muitos pesares.   e eu não gosto de arrependimentos. por isto insisto, mesmo que não veja a margem que delimita o que sinto agora, mesmo que vencida pelo choro, e esta lágrima que pousa no canto do meu lábio neste quarto sob a luz da tela onde edito minhas palavras cheias do amor que sinto e não posso te dedicar, visto que você não aceita e não tenho espaço para tanto. 

não quero dizer mais nada por enquanto. me sinto a ermo... mas pense que acabaram-se os caracteres e quem sabe a tinta da minha Olivetti imaginária.


rosangela a.

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