Faz silêncio



Pouco antes os pássaros em revoada partiram para lugares mais quentes.

As formigas desapareceram da pia, do quintal.

As abelhas não vieram me acompanhar no café da manhã.

Faz silêncio

Um silêncio meio oco,

de estremecer o corpo inteiro,

aquele de metas alcançadas,

de escola vazia após as 18hrs, sono sem sonho.

Faz silêncio

e o espaço se amplia.

Sabe quando a água acaba e falta luz no bairro à meia noite?

Quando zera suas espectativas do que virá do outro? De você?

Calem-se as ofensas!

Faz silêncio... Eu peço.

Não há doentes aqui, ninguém respira por aparelhos. É só um favor!

Faz silêncio minha mente povoada. Calem-se monstros, calem-se santos...

Calem-se quereres, dissabores.

Faz silêncio coração, ameniza teus batimentos. Estou ouvindo teu estrondo palpitante como caixa d'água vazia quando liga a bomba.

Faz silêncio

Preciso sentir este nada que sou, 

este vazio sem fim.

O intervalo entre minha inspiração e o expirar.

Assim como um broto traz à tona o que chamamos vida, apenas com um suave crepitar entre terra, folhas e água.

E o neonato... Teu filho! Que ao nascer, nasce silente e só grita após ser propelido ao mundo.

Faz silêncio

Como quem se entrega à morte...

Eu penso na morte, na morte das coisas, dos instantes - eles morrem quando chega outro instante, e nasce outro, e outro... Penso na morte dos que nos deixam em vida ou para a eternidade e fica a saudade. E o que é a saudade, além do silêncio do que não se viveu?

Faz silêncio vida!

Rosa Ataíde

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Despossuídos de Corpos

interno e final

O CONTO DE UM ESPETÁCULO SEM GRAÇA - Roteiro