deliberar

 



(suspiros)

ahh! ahh! ahh!


alguém? alguém me tira daqui?

tem alguém aí?


(suspiro)

ahhhhh!


(exagero)

estou sufocante!

socorro!

me esqueceram...

ninguém me vê?


(súplica)

me tirem daqui!

não consigo sair!

quero expandir,

quero arfar além túmulo!

me ajudem, é sufocante, tenho medo...


(ponderação)

alguém lacrou a casca

da minha pele rígida... fui eu?

não vejo... ceguei.

as memórias estão espalhadas

dentro de mim e não às alcanço,

este medo das lacraias que me adentram

me corrói e não há como limpar

essa sujeira.

o medo é sujo, apodrece, come a carne,

e o que é carne vira pus,

estou deteriorando.

quem sou eu diante de mim?

quem é você? 

não me reconheço

sob essa perspectiva

de ser...

de ser espectro,

de ser nada?


(libertação)

vazio

inquietante.

rompo com o espaço,

saio da caixa,

algo estreito se abre e é

por onde passo...

não há pele, nem ossos

não sinto nada!

alcanço um jardim de pétalas mortas,

não há vento,

não há frio nem calor, 

não há som,

sins ou nãos.

liberta-me!

ninguém ouve...

liberta-me!

ninguém...

liberto-me

libero-me

danço no jardim,

livre escápula que se abre 

e a música que ressoa

sou eu,


(aceitação)

morri.


rosa ataíde 


Fotografia: Tom Kiddo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Despossuídos de Corpos

interno e final

O CONTO DE UM ESPETÁCULO SEM GRAÇA - Roteiro