transmutação

 

Julien Tixie

O som de suas ancas movimentando-se  pelo espaço, vibrando pelo vento, é de um deslumbre imensurável, pelo pensar que desnorteia o roçar de teu vestido sobre a pele, como se a tez se arrepiasse de tão fino tecido, tão delicada pele e tão suave brisa.

Você ensaia me ensinar um mantra enquanto observo teus pulsos ornamentados e tuas mãos deslizarem em direção ao ventre em sinal de infinito... Mão esquerda por baixo da mão direita, polegares que se tocam suavemente. Algo me desperta enquanto imito teus gestos e observo teu colo semi nú. 

Há um hemisfério fora daqui, onde carros buzinam insensatez, perigo, medo... Ao longe se ouve ruídos, embora quase toda sonoridade externa seja abafada pelo som da brisa nas copas das árvores e pela música indiana tocando na sala. Há corações inquietos, acelerados lá fora e aqui dentro o meu também aumenta o ritmo.  

Mentes que se sabotam e negam o que sentem e nem sequer sabemos o que queremos de fato. Quando os olhos se fecham, tudo silencia. É possível viajar sem se mover, ao mesmo tempo em que o contido pode vir a tona e desvelar essências contidas no mistificado templo corpo. 

Entramos em transe enquanto meditávamos. Quase adormecida você me tocou para que eu me deitasse e com as mãos precionou meu tórax fazendo pressão sobre meu peito para que eu relaxasse mais e entrasse em savasana. Não percebi o quanto o tempo correu.

Após, levantamos e abrimos a janela. Estávamos descortinadas para o enlevo desta tarde em que o sol penetra fundo neste chão de incandescências. Ao som de algo que desperta a kundalini tantra, que antes era apenas um estimulo à meditar, fez com que nossas almas se desnudassem numa conversa profunda sobre amor próprio, respeito, carinho.

O teto girou quando senti teus dedos aliciarem minha cintura, não sabia como reagir e confiante você acariciou meu seio direito. Tive medo e vontade de sair correndo, mas gostei quando me senti úmida. O óleo essencial de amêndoas tomava toda a sala embora ela fosse ampla e com o pé direito alto. Tive coragem por um instante e gemi me virando e logo me joguei aos teus lábios. Era como se visitasse um labirinto desconhecido que jamais explorei, de tão despovoada que sou das coisas que desejo, mas me permito agora desbravar, de tão terna que é a visão de te ver.

Eu repenso os desejos,  o impulso,  quando o  toque entre minhas pernas me arrepia.  Minha vulva a teu deleite... Meu seio na delicadeza de teus dedos. Tuas mãos percorrendo minha pele em brasa, ardendo! E não há palavras que delimite o querer, e o querer mais ainda, e mais...

Teus dedos! Como sair daqui? Tive vontade de fugir. Me dei por conta que se olhasse pela janela, alguém poderia estar nos observando. Esmoreci quando teus lábios alcançaram os meus... Tanto faz o que está lá fora! Meu corpo, teu corpo... Nesse momento ambos rijos, ambos úmidos, lábios aflitos. Estamos trêmulas, ofegantes e nos lançamos ao chão, e como virgens em noite de núpcias fechamos os olhos que até lacrimejam, e ao abrí-los numa coragem insana nos miramos olhos nos olhos e decorremos até nossas bocas entreabertas. Eu sinto tua língua quente e lembro Hemingway, como grãos arenosos de uma pera madura. Doce ao extremo, oposta a libertinagem que ansiamos.

Tirastes minhas vestes nesta hora... Despi-te inteira e mordi a ponta de tua orelha enquanto você, se agarrou em minha cintura e deslizou o lábio até minha vagina tesa e abri as coxas para me dar  a tua língua, dedos e desejo de me ter, de meter fundo e me lamber, e meter novamente enquanto agarro teus cabelos e os sinto deslizar sobre meus quadris, até que gozo, e meu gozo te alucina e aperta mais ainda meu corpo contorcido. 

Para meu olho de cansaço com qual espalmava sem esquinas o teu corpo, cada curva e milímetro, teu poro aberto no queixo, teus cílios piscando como num balé de sedução, deitei ao teu seio mordiscando e o lambendo, percorri teu ventre tátil, espalmando tua pele até tua quente vagina, um tanto frenética e beijei teu lábio inferior com a delicadeza que só a tormenta de corpos aliciados propõe,  na espera de proporcionar afável aquilo que chamamos prazer total, entrega, rendição, volúpia! Só me lancei ao descanso quando olhei o teu abismo e você se liquefez inteira em  minha boca e seu gozo se misturou a minha saliva.

Há quem chame de pecado, há quem condene... Eu chamo de força e disposição ao que nos sustenta clementes quando em carne sobrepujamos os limites. Isso é mais que apenas sobreviver, é o céu desaguando entre nós mais que chuva... O mar inteiro... um oceano!

rosangela ataíde

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