cobra-se caro pela vida
Não me cabe julgar a morte, nem o espetáculo entorno dela. Porém quando se trata de suicídio o entorno me chama atenção. Justo quê, o cenário transfigurado em plena crise mundial me faz ficar cativa diante das divulgações e divagações sobre a causas mortis que leva alguém a abster-se de viver.
Já falei antes sobre suicídio e não é mistério para muitos que sou órfã de um filho vítima de suicídio.
Não preciso expressar o quanto acho de mau gosto divulgar as fragilidades das vítimas de suicídio. Mas pondero a reação a tal feito diante deste tempo que assola a humanidade. Acredito que a grande verdade dessas angústias se conecta com o fato de que não estamos preparados para o conviver com a angustia da não aceitação social e interna, e que, muitas vezes diante da fragilidade pela realidade de viver voltado a si mesmo, seja por opção ou por imposição da vida, acabamos presos dentro de uma bolha de egoísmo, num gesto inconsciente de mutilação da realidade de que nosso sentimento de responsabilidade para não dizer culpa, de que talvez pudéssemos aliviar o sofrimento alheio quando na verdade, estamos ocupados buscando nosso espaço dentro do elevador, ou nosso lugar na fila do pão. E este tempo de confinamento ajuda no sentido de refletirmos sobre nossa disposição a sermos mais fraternos uns para com os outros. Ao menos deveria.
A sociedade cobra caro de quem se encontra perdido e não há perdão.
Mesmo que ainda assim não consigamos dar sentido a frase "nossas mazelas justificam tudo o que somos e a que viemos". Pondero que onde mora nossa dor, ou nosso medo e onde reside nossa maior fraqueza é nossa maior força, e que observar isso, pode salvar nossas vidas ou ao menos aliviar nossa estadia neste espaço sagrado chamado corpo e ainda no espaço tempo.
Não é difícil compreender que ter ciência do que almejamos na vida é sem dúvida o que nos leva adiante e que se não temos essa compreensão ou se nos sentimos de mãos atadas a seguir, nossa busca torna-se vã. E se aliado a isso não temos amparo seja ele emocional ou religioso, financeiro, etc... se não tivermos a que nos agarrar, viver se torna intragável.
Daí se olharmos de frente o que nos cabe superar e evoluir como indivíduos, sem pesar a ideia egoística de que somos os soberanos nesta embarcação, mas sim a de que somos instrumentos que dá forma a toda ela, ou melhor explicando... que somos almas num contexto coletivo enquanto universo no sentido individual (um paradoxo). Somos luzes no mundo! Aí sim, podemos vislumbrar que a humanidade pode dar certo.
Apagando-se as luzes e descendo ao túmulo o que nos resta é nos acovardar diante do óbito. E a morte sorri implacável. Mas um riso fora do seu tempo é um riso quase que displicente.
Dona morte já anda bem abarrotada ultimamente.
rosa ataíde
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