inocência à beira do abismo




a doçura nos olhos da menina

ainda insiste neles?

crê, nestes olhos?

eu já avisei...
— é preciso fúria! menina...
despir-se deles
guardá-los seguramente numa gaveta
e esquecê-los,
renegá-los
— não são meus aqueles olhos!
mas confesso aqui...
não os roubei,
nasci com eles,
meus pais que me deram
com certidão em cartório
não fui eu que tirei deles nem um naco
de amor e fé...
mas eu avisei:
— não desfile por aí com esses olhos,
bote neles a malícia,
um pouco da proteção da prepotência,
vista a armadura do conhecimento
a máscara da vaidade te cai bem...
mas não adiantou
os olhos não paravam quietos,
pareciam flechas em direção ao abismo
e não pude contê-los
aí aconteceu que,
eles não viram o escarpado
que há num sorriso,
e se deram por inteiro
e sorrateiros,
com o soslaio originalmente deles,
curiosos que são
se encontram aqui,
neste poema — entrelaçados, vesgos, vesgos...
com capinhas de chuva?
ora, façam-me o favor!
— e eu avisei sabe?
mas era tarde.
então te peço:
— por favor...
afaste teu sorriso deles!
rosangela a.

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