o rochedo e o mar

Fotografia: Maya Beano


há um céu passando em timelapse

pela água translúcida
dá para ver as nuvens
as aves em partida
pelo tempo que se mira
até as estrelas
acima desse espelho d'água o vento soa frio
diante à instabilidade atmosférica
uma pele exposta observa o céu
pelo veio d'água
à espera do próximo lance
...ainda que fale de profundezas
essa pele te lança fora
pois o dentro dela te engole
aquilo que vai além da mudez
ou de toda tagarelice falha
além do tátil
desse rés da tez
... há um espaço anexo que adentra
e transfigura essas profundezas
com o pouco de dentro dele,
mas é nele que a verdade vê
é lá que se sabe que o maior medo
é do vazio
e aquele que perde
sabe bem o pavor que é
poucos são os olhos que desnudam
o fora da paisagem
que manipulamos
- coragem, fé, espera...
***
não sei onde paramos da última vez
em nosso jogo de letras mudas
...mas sei que perdi a partida
e não quero blefar
por isso talvez a cabeça pese
para baixo olhando esse veio de sal e céu
e não ergo os olhos para cima
pedindo clemência ao que nunca perde
um peixe rompeu o feixe d'agua
de encontro a onda que vem gigante
já não vejo o céu refletido nele e
perdi o peixe
ontem sonhei
que o pegava com a mão esquerda
e o engolia vivo
não era fome
era um saciar da alma
eu precisava daquele peixe
hoje
tive medo do peixe me ferir
rosangela a.
o rochedo e o mar

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