anotações sobre o amor bruto



ou, eu disse que ia ficar roxo
o tropeço inevitável do amor
é mais sobre quando ficamos ansiosos
diante dele
e querermos segurá-lo para que ele não se vá
e nos diga:
- adeus amor!
o mundo me espera e preciso correr com ele.
e é também sobre quando alguém parte sem deixar um abraço
e nossos braços ficam vazios abertos para o nada
acho que nesse momento ficamos meio que vagando no espaço que falta
e isso causa um pouco de medo
e constrangimento...
onde está o meu amor?
que falta é essa?
é tarde para o amor?
talvez seja e nos cabe aquela posição fetal uterina das inseguranças
o querer voltar a ser feto, a mãe que nos ampara
lhes digo isso sobre o ponto de vista de quem
já perdeu amores para a vida e para a morte
porém ambos são a morte
ambos são uma pancada na caixa craniana
ambos são um buraco no peito
e ao falar de amor aqui nessas linhas não estou limitando o amor
aos amores românticos
falo de todo amor possível ao amor
da amizade que se vai pela vaidade
do amor romântico que se esvair pelo descaso
do amor familiar sufocante que aniquila nossa força existencial
"amor roxo!"
parece que a vida é na verdade um grande tabuleiro
onde as peças devoradas são descartadas ao redor do tabuleiro
e nada sobra... torres, reis, rainhas,
- xeque-mate! você perdeu o amor...
e alguém fica lá com um amor inteiro no peito
ou pesando sobre as mãos
- volte aqui que tenho amor ainda... aceite!
nessa esfera sentimental
queria dizer...
todos saímos perdendo
e só percebemos na primeira topada, quando você volta
... bate três vezes na pedra e diz:
- é meu, é meu, é meu!
vamos esquecer a lenda e assumir que essa unha vai cair?
Rosa Ataíde

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