onde a poesia não tem vez




como água num copo de matar a sede
salobra
cheia de sal e maresia, mas dentre o salobro algo de doce persiste
invade as palafitas, flutua

um veneno de causar delírio
aos perdidos no deserto do alto mar
indo por onde segue a força das palavras
a forja que incita vida, e morte

líquida

poesia bruta para olhos mansos
despertar

— poesia mansa? para a alma lavar...
açude? céu despencando sobre nós?

onde as palavras viram pedras
não mais estrelas

...não, aqui a poesia não lava nada
banha em lama, racha a pele
encharca e seca ao sol
encara tempestades de areia, lanterna em mãos
árida
ávida
voraz

uma metralhadora de acertar o peito vago
de voltar seta de gelo, e acertar o meu
__o mundo perece de amor__

__ aí que me derramo __
e fico sem o que dizer
atônita
com uma coleira de ouro presa ao teto
ou ao chão de meus sentimentos
no nada que sou, embora espécie animal
um búfalo ferido num leito distante
sentindo ao longe o cheiro da manada

anseio morrer no mar
e no mar
ser rio
mais castanho que aqueles olhos perdidos
mas castanha que as folhas podres
— musgo —

encontro de águas que vence a margem, a paisagem
morta
o represar
mesmo que a grandiosidade das ondas do Araguari
tenham morrido nesse novo tempo
morremos todos

estado bruto de mim, de você irmão

S E L V A G E N S

rosa a.

Imagem: não sei se do Lilo Clareto, do Christian Braga ou do Raphael Alves, se alguém souber, só falar

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