Missiva ao Meu Querido Bob
Niterói, 06 de janeiro de 2024
Meu querido Bob
O que é o querer além de uma angústia que se desarma diante à comunicação, ou ao contato?
E o que é o possuir além de uma satisfação individual que não se garante diante os ruídos internos de não poder retribuir com afeto ou de não obtê-lo?
E o querer-não-ter diante do descaso ou do movimento propício?
Diante do amor, me desfaço, me derramo, é ele que me põe de pé.
Diante do descaso, me sinto ferida e despenco.
Não posso desacreditar o amor quando é ele que me sustenta por mais 40 segundos. 40 segundos de amor é meu alicerce agora, visto que estou frágil e desorganizada.
Eis que vivo me sacudindo numa cadeira feito uma criança contando os segundos para sair do castigo.
Eu quero brincar, mas a brincadeira é séria.
Ela pode me tirar sorrisos e sinto falta de gargalhar de doer a barriga. Mas se ralo os joelhos ao cair no abismo, quem vai segurar minhas mãos?
Todas as minha incongruências se convergem em um limiar...
Ou não vês, que eu tinha um plano macabro para no mar, aniquilar minha vida? Por qual motivo eu o miro com tanta força?
Mas a vida brinca com a gente e no momento oportuno a ela, ela mesma, põe-se a lutar, pois ela guerreia para se manter a todo custo... A vida, me trouxe o amor, uma baita sacanagem! De forma que nunca havia visto e não falo de enamoramento, esse é um detalhe pertencente, porém menor, ela me trouxe o amor da forma que mais poderia me cativar, o amor puro, bruto, ainda por lapidar.
Esse é o limiar para onde todas as estradas me levam. Um ponto onde vida, amor e morte me sustentam no balaústre de uma ponte.
Dá para imaginar essa luta interna quando há amor dos dois lados e ambos me sorriem e me arrancam lágrimas? Saudades ou esperança... Quem vence, quem me derrota?
Rompi com todos os laços que me eram frágeis, me desloquei como uma insana a fugir do hospício olhando para trás vendo as cartas desmoronarem e elas ainda estão caindo, algumas, as que tinham a ilustração de um urso, dissimuladamente queriam que eu me lançasse nos braços da morte desafiando minha capacidade para isso... Como quem te dá um veneno dizendo ser uma maçã saborosa e bela enquanto eu me doava até o cerne para que esses ursos me vissem como um urso Poh que só quer mel, eles me traíram de forma suja no mesmo espaço onde me deitava plena e mesmo com quase meio século de vida, assistia desenhos animados.
Estou nesse ponto que não sei o endereço. Pela primeira vez na vida, não trouxe, mapa, relógio ou bússola. Muito menos me obrigo a ser congruente com atitudes ou com o que digo.
Tenho essa capacidade, de olhar nos olhos de cada ser, e deduzir a hora que eles vão me ferir, ou partir, vai saber? Desconfio saber até o final da história. Por isso são poucas as iris nas quais confio. Cada ser é um outro território, um lugar inexplorado... Piso com a cautela de quem desconhece até o próprio solo.
Para ser sincera, ainda não me garanto diante o mar. Mas olho para trás, não para rever o passado, mas para ver se tenho alguma garantia que por onde eu optar não terei mais que caminhar em meio a ilusões como vivi até agora.
Essa não é uma história triste... É uma história de redenção e rendição a um novo rumo. Lógico que estou assustada. Se saio desse balaústre tudo me é inusitado, nem as incongruências me salvam... em direção a morte, desconheço o caminho, em direção a vida é como disse antes em outro escrito sobre o filme Nosso Querido Bob... Passinho de bebê. Tenho que estar cautelosa até comigo. Só que não faço ideia de onde o terapeuta foi passar às férias em família.
Não, não estou deprimida. É insegurança.
rosa ataíde
Imagem: Bill Murray em Flores Partidas
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