no Vale das sombras




cabras se equilibram nas rochas 

no vale da sombra 


desfigura a face cativa 

onde o viajante

se arrisca em plena fé 


cego


de possuir os mundos possíveis 

enquanto este

lhe foge em agonia 


a mente avisa dos perigos

o entorno paisagem, grita


cuidado com os salteadores!

atente às peçonhas!


fala-se em várias línguas

que parece compor parte da paisagem

o pássaro 

e tudo é grito


diante da sombra de um desfiladeiro 

o viajante não silencia as preces 


então não ouve

não vê humanidades


mas crê 

na promessa de um Soberano

que o ignora


***


sou a rocha 

por vezes a cabra equilibrista que sobrevive 

o viajante distraído 

a peçonha

o pássaro

o desfiladeiro inteiro 


mas hoje queria uma prece

me tirasse a potência de remoer 

afetos que só existem em minha cabeça 

enquanto caminho 

no vale da sombra da morte


cheia de fé na vida

mesmo que cega e cercada de vazios 



rosa a.








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