Lascas de mim
estou retirando as cascas
as lascas que atam minha pele às feridas
como quando descasco alhos roxos
são lascas finas
difíceis de retirar as camadas desse tecido
quando e onde entranhado o corpo fica
curiosamente, guardo cascas de alho
é um ritual do qual não me dou conta
meio bruxa, meio louca, meio má
estou em busca da minh'alma
percebo as do meu redor
sei quando são boas, quando não
quando não há...
mas a minha me escapa a essência
por isso retiro as cascas
as lascas e quase as devoro
feito criança que as come
pretas lascas dos ralados joelhos
há tecidos artificiais
finos, fibrosos
cola de papel na palma da mão seca
tecido, teia, traços
há quem leia
mas não me leio
estou retirandos as cascas
as lascas de meu corpo
em busca da alma que me habita
e me importa saber se sou boa, se sou má
talvez me revire cebola
hei de chorar
talvez alcance a ancestralidade
nos veios espessos de minha árvore
talvez escorra por entre seixos
ao me derramar sem tais cascas
e não encontre essa habitante
fera, furia, ferida que me tempera _a carne que sou
rosa a.
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