Selvageria II ou "eu queria ser limpa"





tenho os ombros e braços baixos em rendição 
palmas abertas, cheias de meu próprio sangue inebriante ao ar, digo nuas,
postas à frente dos quadris 

o queixo rente as clavículas
estou de joelhos ao chão 

quero atrair o predador posando de presa

mas os olhos denunciam-me ao quase tocar
o arqueado do semblante, tenso

são flechas a mirar a presa
inquieta
saindo da órbita 
se embrenhando na mata

fecho os olhos para não revirar os mesmos
perco a caça, mas rio alto na clareira da mata e me jogo ao chão gargalhando 

vísceras para o céu, não temo as aves de rapina, não temo o rugido do leão, ou a pantera negra com seus olhos amarelos me esgueirando 

no lameado argiloso de meu corpo me confundo com a paisagem 

suja e selvagem

amanhã, desfilo clichê entre madeixas e delineados contornos nos olhos
bancando a egípcia 

mas sei bem o bicho indomável de dentro
mas sei bem da presa enjaulada que me mira pedindo clemência no espelho 
mas sei bem da gana de desbravar que trago nos olhos de fera 

me levanto, abro mão de ser a armadilha por enquanto 
o sacrifício camuflado de palavras cheias de signos
sigo solitária entre os lobos uivantes, nenhum Alpha, por enquanto...

da vida clichê nada me atrai 
da vida de bicho que sou e não assumo aos meus por amor, apenas por amar

rosa

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