nalgum canto

 



                    "Eu sou teu cântaro (e se me romper?)"

                            "A tua água (e se me corromper?)"

                                                       Rainer Maria Rilke


meu amor,

será que uma única vez você consegue?


abrir a glote 

ao se utilizar das consoantes surdas,

e as aspiradas 

e fechá-la com tuas vogais?


solte-se dessa vaidade,

deixa ela alí, naquele canto.


vá... não deixe que o céu desabe

logo agora em que estou... ora, em prece, e te falo!


relaxe as extremidades do corpo,

veja como fazem teus querubins

com seus cabelos esvoaçantes


e teus anjos 

quando racham os mármores da condenação,

e despencam de teus altares

sem coordenação motora alguma, e se ralam


eles sacolejam as asas,

mergulham no nada da coragem de Ares.


deita ereto sobre teu mastro...

concentre-se ao lado esquerdo das vértebras t6/t5

encontre teu estro


o equilibre entre o cóccix e a cervical 

conecte-o ao teu provedor de consciência 

vasta _viaja, amor!


sinta... ele palpita!

sem intervalos bombeia o tempo todo,

vi-da!


você pode vê-lo pulsar na garganta

que é de onde vem a sonoridade 

quando a gente fala e canta 

e o corpo todo dança,

ou recita entre lençóis blasfêmias de amor


e é perfeito o amor quando chora de prazer.


não percebestes?

se não há contexto eu,

de-sis-to de ti.


você quer que eu aprenda libras e te ensine os sinais do amor?


sei, me falta estar no hiato 

de quando a glote se fecha,

e cessam os ruídos e o riscar dos dedos,

me falta a obediência, muda


e agora te falta o silêncio surdo 

diante das coisas absurdas

...ou você usa fones?


é que sem eu , e todas as minhas transgressões, 

e gritos, e poemas sujos, que sejam!

o senhor padece, e inexiste.


sem meu amor vadio... cadê você? 


deus, cate tuas vaidades de meus cantos todos. e pode ir...


Rosa

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