Wuthering

 



não sei se é o vento lá fora 

que a janela inútil veta

ou se estou assombrada


mas ouço um uivo distante

que busca alcançar um tom de disfarce


trêmula ensaia um certo descaso


talvez o oculto que num quarto escuro 

vejo pelas vidraças

e telas, e leio e, me lê 


embargo a voz quase sempre e

releio incansável...


a voz quer alcançar o tom mais próximo

que decorei e não esqueço 

para que eu a ouça


não sei se o riso ou o medo

algo desarma a face úmida 

que me vem na memória 


e entrega a necessidade de querer o olhar

o sentir da pele gotejar por sobre meu corpo 


mas há a calma...

atraso, e espera

por trás de uma cortina cerrada

que intercepta o grito da fera


e a sonoridade me chega em baixo timbre 


há um atraso no destino

o deixar para mais tarde, ou nunca mais


e acaso, devo dizer...

o amor pede o instante e a entrega que não possuímos 


se acaso amor

não deveria ser para depois

ou outra vida

                                               — quem sabe?


por mais proibido e escandaloso que seja


mas ocorre de às vezes

o amor ficar ao relento

implorante 

e não sei se sou eu lá fora ensaiando 

o dizer que convença...


— me deixe entrar, sinto frio, e sede

uma fresta nesta janela me basta


e acontece de às vezes não ser o amor


e ser talvez, o meu reflexo nas vidraças 

e o sibilar do vento Norte que me chama


Rosa

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