pira
sibila minha voz
nesta nota
em que trago retalhos
de poemas
cerzidos por uma linha, sem arremates
entono voz de canto
em recintos de silêncios
em que quero deixar meu grito
tenho um tanto de repetição
repito, repito, alinhavo
entre o sagrado e o profano
são atos por sobre uma
pira ardente
de incenso
torrentes
águas estéreis de um rio
contidas numa taça de vinho
o corpo, o movimento tecido
do mar... das nuvens, da borda
de um amor
por um deus
beckettiano - que nunca vem
por uma sagrada mulher
nua
serva
amante
a puta pura (um anjo, só)
os loucos e malandros narcotizados
bêbados
me entendem bem
é como um arranjo de um único botão de flor
que despetala sobre a toalha de crochê
bouquet de palavras cruas
cheias de espinho
firo e sou a ferida
a cicatriz da agulha no polegar
o calo rijo
que a lixa esconde
e o beijo a lamber o sangue
para que sare este poema
ao ser esquecido
que me perdoe
o poeta, mais poeta
ao qual teço meus suspiros de pietá
e aceito a silente língua de seda
que há de deslizar sobre a pele fina
alguma poesia sobre ser no mundo
perdoa, poeta?
pudesse
a teus pés, os lavaria com mirra
toma aqui, um poema alinhavado de saliva, feito com afeto
ao raiar do dia...
rosa a.
Comentários
Postar um comentário