Saio de Cena





um vulto me abriga,
acolhe meu corpo, minha alma.

acontece
que quero ser leve, ser brisa,
ser voz...
e o vulto pesa quando me acompanha.

nunca que deixarei o vulto,
nunca o vulto sairá de mim.

apenas quando me sento ao sol de meio dia e fico imóvel,
paralisada diante das coisas que
se apresentam a mim.
é como um espetáculo
em que dirijo
e uma cena se repete, até que eu consiga deixá-la perfeita,
mesmo estando imóvel diante da vida,
sentada sobre o vulto.

quero equilibrar!
peso em dois pratos
coisas que quero expressar
e o cenário completo que não posso mudar.

você meu filho,
você amor,
você que me destes a vida
- pilares.

questiono se devo deixar as coisas soltas,
e admirar os atores no improviso de seus delírios
sem o roteiro que preparei para eles, como se tivesse controle sobre isso.

vi uma mulher improvisar
sobre um texto que escrevi,
seu corpo tremia,
ela tinha soluços
eu sentia o coração dela e o meu vibrava junto.
então eu entendi...

estávamos possuídas por outras almas fêmeas.

não era a voz dela,
não era minha voz,
eram as vozes de milhares
que ecoam em nós
que da arte fazemos vida.

e choramos de frente à lagoa.

nesse dia o vulto pesou mais,
não era apenas meu vulto,
ou o vulto dela,
mas o vulto de todas nós
de gerações e gerações de mulheres oprimidas.

é como droga
se em um improviso de um roteiro
o corpo reage com espasmos.
imagine tirar a rota da vida?

então penso que se ao meio dia eu deixar os atores improvisarem
e eu, deixar de ser o o quarto pilar
ao me deslocar meio dia e trinta,
talvez o vulto se torne gigante
quando desmoronar esse mundo imaginário que edifico.

e quando tudo for ao chão,
o vulto em mim
certamente se tornará o mais leve possível.

e talvez eu crie asas e saia voando por aí.
como uma Fênix
refeita,
por todas nós que após ardermos
- estou ardendo!
nos tornamos, não apenas livres... mas leves,
cientes de nossas
sombras.

rosa a.

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