a palavra última, a derradeira, ou espinha de peixe na garganta
queria as palavras todas! a palavra prova, o verbo espinha de peixe na garganta. a palavra doída, doida... sandice. a palavra última, a derradeira.
queria escrever até me esvaziar
mas acho triste não ter nada a dizer, o ser vazio, o ser nada, o ser amorfo. me faltam palavras e, não me atrevo a criar novas, talvez reciclasse algumas e às teria inovadas. palavras inovadoras!
estou abastada de dizeres e trocaria sem dúvida alguma... vírgulas por unhas riscando a pele, respiros, pausas;
hifens por sugestões do que pode ser concluído ou não, caso queira-se substituir o pensamento;
reticências quando muito pode ser dito ainda ou se tenha a esperança disso;
travessões para com as estrelas manter um diálogo possível, ou inventar conversas afiadas por horas à fio.
pegaria o rabo de um cometa, espalharia pelo universo os poemas sem ponto final algum, apenas exclamações, vírgulas e interrogações. interrogações são eternas...
lixo espacial?
deus não perdoaria tamanha intensidade.
por isso as palavras se dissolvem no ruminar da garganta dos poetas que ansiosos as catam para não perdê-las. cada palavra vale ouro, mesmo as não ditas.
talvez por isso não consiga me esvaziar, deve ser isso então... pensei agora.
até tenho umas palavras presas no esôfago. e meu estômago está cheio delas. quero vomitar? deveria?
algumas palavras me causam náuseas... outras são como borboletas e fazem cócegas.
cada uma um AR-que-tipo, signos, uma figura ou uma desfiguração do convencional ou do pelo bom senso, aceito.
tenho um universo aqui dentro, cada poeta tem o seu. acho que sou poeta... seria? quando os poetas se esvaziam, logo preenchem o espaço oco com outras miragens, paisagens, vocábulos!
de volta à terra...
vazio de poeta é delírio... é como estar num deserto e mirar um Oasis a cada piscadela. imaginar o universo despencando aos teus pés a cada pétala de flor caída e ainda assim não saber descrever o que se sente.
talvez não queira de fato um esvaziar, é que as vezes sou cretina, falo umas coisas que não devia. mas quero por numa coerência concisa tudo que quero dizer, mas que fica alterado em seu aspecto pois não conheço todas as palavras possíveis.
rosa a.
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