queimada de turfa

 



abri a porta para a vida e,
como sempre faço quando a porta dá para a rua,
abri a primeira fresta,
deixei entrar a primeira luz,
espiei,
tomei coragem e escancarei a porta.

como fumaça de queimada de turfa...

assim ela veio, impregnou tudo ao redor,
com seu cheiro e fuligem, impossível de conter...
me violou? ou me dei a ela?

fato é, hoje, ela que não me detém.

devo confessar nessas linhas esquecidas,
talvez pelo motivo de ser eu meio pântano, e qual poeta não é?
ela reside aqui,
e abrasa tudo por dentro.

não vou te poupar, caro poeta...
essa turfa queimando, te tornarás tão só,
quanto um vulcão em atividade.
e ainda assim, não te sentirás só.

a poesia te torna eremita entre palavras
...esqueça a literalidade delas, mas não dispense a conversa
... esqueça o tempo, mas o viva intensamente

...só, navegue rei
pelos mares da alma
nos dias quentes... e nulos.

é o que tenho aprendido
desde que ela chegou
e estamos aqui trancadas
olhando uma na face da outra.

rosangela a.
Foto: O Debate - Macaé

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