riscando dizeres na minha carne



estou suja de dizeres
as palavras escorrem entre meus dedos

meus elos

e se acomodam em meus cabelos
contaminam todo meu eu
por dentro e por fora

como se lava um corpo de palavras
não sei...
deixar de dizê-las?
me lavar com páginas virgens?

dizer do outro como duna onde se desliza
nômade?
não somos todos
ao atravessar nossos desertos?

não pensar no que trago,
esquecer definitivamente...
ou o outro que encontro...
baixar a guarda das espectativas

mas sou o encontro que se espera?
como poderia, ser eu o que espera o outro?
já não basta a que me tornei?
já não basta ao outro ser?

então se tanto digo...
se tanto faço do mundo dizeres
e não pauso a significância da Babel em que
vivo(?)
estou suja, ou me feri riscando dizeres
na minha carne?

Rosa

Imagem: anônima

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