sobre cegos


a alma muda
se toca com movimentos gesticulares
não sei libras
por isso danço poema
e grito aos surdos como um bumbo
a alma cega
se toca com o tato
por isso meus dedos te catam
no vento em versos
não sei braile, mas gosto da coisa tátil
e
estou às cegas
como se toca
a alma sonora, aquela que vê
mas que se faz inexpressiva?
só sei a necessidade do ar
da saliva quente
úmida saliva
a deslizar a tua língua
torno-me deficiente
pois salivo teu corpo todo
és alma sonora
que vê e é inexpressiva
e se tocada como se deve
com o perto
se perde e com o dentro
solta a voz e ecoa no ar teu timbre
e ainda com toda com a umidade do corpo
suas falhas
suas frestas inconclusas
sem calhas a colher teus pingos
minha pele, minha pele
cercada de estímulos
se dá a tua
e diz de gestos e toca
sonora, muda, ou cega
sei que grita e se desprende a miopia
e olha fundo nos olhos
e fico presa no encantado
eis o canto... e cantarolo a parte sombra
onde ela não se omite
e a gente vê o que tem dentro
por já estar no entre
a alma
se toca mesmo é com os olhos que me mira
meu foco
e você deve pensar
sobre cegos...
a eles o impacto!
é que por cega, dos olhos
a alma cega
é sensível ao deslocamento do ar
o vapor
o calor que o outro emite
quando encontro
e me segura contra a parede e...
o inexpressivo se despe
Rosa
Imagem: Blackbird - Grécia


 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Despossuídos de Corpos

interno e final

O CONTO DE UM ESPETÁCULO SEM GRAÇA - Roteiro