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Mostrando postagens de outubro, 2024

a pergunta que ninguém faz...

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                            inspirada no personagem Andreas de A Paixão de Ana                             por Max von Sydow                             Ingmar Bergman  o corpo me vem em ondas  quase mergulho nele quando no raiar do dia invade meus sonhos toca a fina pele que me cobre  vapor morno que me toma as mãos  há um mormaço doce em seu entorno mergulho um universo que não capto todas as nuances predomina o sol radiante a sombra cinza o tom ocre e azul e tudo se mistura à paisagem  mas a reatividade do mundo a que prescreve a realidade da vida a que chama à mesa posta dissolve a mão, o rosto o corpo inteiro e não há você  ...e acordo o corpo agora se esconde há uma parede em lugar dele  espessa muralha intransponível  um rochedo ...

Antropo

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  o rio escaldado escoa para o céu  o céu nebuloso dourado _são as cinzas! não se vê... não vai ao mar o rio, ainda fim da tarde que arde: o ar seco a lanha na garganta que inflama a fumaça  a água ardente dos pântanos  os bichos em povorosa _SOCORRO! __e o xamã dança seu canto  e chora a chuva que não chega o raio do trovão  o sol que se apaga no poente visto pela tribo clareira, ferida aberta pela máquina  que devasta a troca mercado/lógica__ selva em chamas... árvores tombadas__ __animais! cade os animais da manhã, na relva? céu que desaba sem tormenta sobre nós  os vivos, os vagarosos comedores de terra os vazios de sentidos sobre a mesma lenta, Terra ...e sempre — que catastrófica! — que claustrofóbico não ter para onde ir... a mente vaga! — não há de ser, nada! — nada há de ser... — só mais um viaduto com nome de um fascista morto — não foi nada — nunca há de ser... o peso antropo sobre Gaia  Rosa  Imagem: Kevin Berne que coloquei ...

um certa forma de ser possível > >uma certa possibilidade de ser

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da liberdade covalente molecular se denuncia uma certa substância  miúda possibilidade se replica  de certo há vida, ou promessa tudo contribui, é um espetáculo  um quase afirmar a vida que não se mede em possibilidades ser, não ser, nada ser, tudo posso... podemos!? é que só existe o sim, mas assimilamos o não  ...dito outro - cronos, dogmas - e entre eles o nada e o nada ainda é o sim repara o que dizemos, não! mira bem... onde o não existe, não existe o não  a vida que chega, interrompe a substância, o cancela o fluxo, o renega a esterilidade ainda não o diz e se diz nada... eis a soberania da vida a consumação  "nada" é possibilidade  consumada, eis que houve o sim escuta bem o que dizes... Rosa

tão flor

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tenho uma flor ao lado de dentro  carnívora a flor que me dovora o peito tem cheiro a flor, mas ninguém sente é bela a flor que não se revela com ela me rebelo só a mostro a quem quero, e quando tem medo a flor de meu dentro expor sua corola esse é um segredo entre nossos mistérios  e os digo... tenho uma flor ao lado de dentro uma fita de cetim que veio junto no presente dia de sua degola  um papel crepom verde como folha um bilhete com aquarela em papel linho havia uma querela escrita ...se apagou, como as desculpas havia seu broto, se deteriorou só o caule restou tenho uma flor ao lado de dentro ela teme a poda, se banha na rega  ama, os dias de banho de sol quando a coloco do lado de fora se não a mantenho, pequena flor ela me domina inteira e faz de mim  jardim imenso de única flor observo a flor, todo dia cuido dela caso não ela despetala e morre Rosa

grades da percepção

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cabe ao prisioneiro no banho de sol,  o dia? para quem carece amor,  percebe o olho no espelho,  o outro? a paisagem se completa,  sem a objetiva grande angular, ou a olho de peixe? *** faz um tempo, fui convidada para um baile  quase ciderela, sem fada tirei a venda de meus olhos desnudei o anfitrião em segredo quebrei as grades da alcova decidi ir nua, eu total e entregue ninguem me viu e sem me perceber me cobri da pele do dono da festa o que faço agora? ja tirei as cascas, as lascas ardo sensível água viva talvez queime  não sei me despovoar da pele  que me cobriu de beijos sem as grades da ilusão que nos cega  se tirar a película protetora que me resta  vazo bruma  vou garoar, chover fininho serei mais Atlântica percepção que sou desaguarei tanto pelo caminho ...toda mar Rosa Imagem: Alban Van Wassenhove

Bicho grilo

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ouvi as cigarras num fim de tarde prevendo dias quentes  havia um grilo solto lá, lá fora onde tudo acontece e pensei... mesmo que não solte minha voz lá  onde o mundo corre grito pelas pontas de meus dedos pois o amor nunca é mudo seu som é tão estrondoso  que causa ondas de choque o amor tem linguagem própria  ja percebeu? e tem isso de se esconder  e dialogar entre signos e querer ser lógico  racional, positivista, negacionista o amor é o contrário do silêncio  é barulhento, mesmo no orgulho que o fere grita de desespero ja reparou? Rosa  

Vou chamar de Fogo, Terra, Água e Ar

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  Ou... Asas Batidas para o Norte? Libriana! quem contradiz a liberdade do pássaro debandar? será que em seu bando um pássaro  grita no idioma dos pássaros... - não vá pássaro desertor!? ou ainda um outro o incita a partir? - vá pássaro louco, e não volte mais aqui!? e, pensando em escrever sobre pássaros  percebi que nada sei sobre eles além de um fato: uma vez vi uma mãe envenenar o pássaro filhote  por este não ter a potência do vôo,  ou por ela crer piamente nisso. é preciso estudar pássaros?  é possível  para mim, humana sem asas entender sobre voos rasantes  em margens que se transportam e se mol/dificam a todo instante em busca da presa distraída eu só sei que por onde a água vaza... nada fica intacto mas será possível entender sobre a dança dos pássaros  em galhos quebradiços  que buscam seu par de acasalamento de uma vida inteira? ou ainda seu canto  chamando o bando para o repouso? estou convencida de uma única coisa, para...

Imaginário

sentir além das vísceras o atravessamento  o encontro que se dá  muito além tato a maquinação de fluxos, a idealização do consumir e ser consumido... o incorpóreo afeto  feito brisa que refresca. que gosto tem o mel maturado na boca? que calor tem o toque? que textura o intensifica? como se explica uma síntese conectiva ...quando os estímulos que se tem destoam do que se deseja? uns diriam que é só questão de afinidade mas afinidade causa angústia e tira lágrimas numa tarde de verão?  me explica... o sonhar com o som da voz  que nunca se ouviu ao pé do ouvido, o sentir da areia na pele em atrito com a pele do outro, a água a encharcar os corpos, os calor da fogueira sobre as pedras aquecendo as mãos que se amparam, o contato com o pelo arrepiando a pele ...que afinidade é essa? que delírio?  talvez a espiritualidade explique e seja ela que faz com que o varrer do vento  traga toda essa intensidade, que não se entende ... mas que se quer tanto. rosa

a leveza insustentável

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  havia sol fazia chuva era noite raiava o dia e as tardes findavam como todas as tardes findam e vi o intocável  o não tátil  pois que era de ar, feito raro efeito, tão raro! por sobre as nuvens vento a bailar sobre todo mar e eu costeira mirava a lua me orbitando baixo, mais baixo  mas não era reles, míngua  era em verdade  submersão de sentidos espetei os dedos num caule e nada importa se era cacto coral ou rosa o que importa era a leveza  insustentável  tão insustentável  que Milan Kundera escreveria o ocorrido se acaso lhe chegasse aos ouvidos  com o peito contrito marejei como é de comum ocorrer em toda despedida  Rosa fotos por essas mãos estas mesmas que escrevem esse poema que antecede a despedida  antes de ter sido acontecimento  antes quando ainda, poema

Selvageria II ou "eu queria ser limpa"

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tenho os ombros e braços baixos em rendição  palmas abertas, cheias de meu próprio sangue inebriante ao ar, digo nuas, postas à frente dos quadris  o queixo rente as clavículas estou de joelhos ao chão  quero atrair o predador posando de presa mas os olhos denunciam-me ao quase tocar o arqueado do semblante, tenso são flechas a mirar a presa inquieta saindo da órbita  se embrenhando na mata fecho os olhos para não revirar os mesmos perco a caça, mas rio alto na clareira da mata e me jogo ao chão gargalhando  vísceras para o céu, não temo as aves de rapina, não temo o rugido do leão, ou a pantera negra com seus olhos amarelos me esgueirando  no lameado argiloso de meu corpo me confundo com a paisagem  suja e selvagem amanhã, desfilo clichê entre madeixas e delineados contornos nos olhos bancando a egípcia  mas sei bem o bicho indomável de dentro mas sei bem da presa enjaulada que me mira pedindo clemência no espelho  mas sei bem da gana de des...